domingo, 18 de dezembro de 2011

Um pouco de nada

É verdade que ocorre muito o inverso; mas às vezes nossa escolha só vem nos dar bom gosto muito depois de a termos tomado. Gostaria de voltar para o momento do meu julgo em algumas, pra lembrar de que fui bombardeado na época: deslumbre, medo, excitação, confusão?

bem..
a questão é que sempre tomamos escolhas, e sem dúvidas com nosso "bom" aval, mesmo que mal pensado ou pego no susto... e, exatamente por esse misto de organismo e improviso (gravado, confirmado na memória!), elas são, em suma, o mais honesto que se pode dizer do "eu".

Profundo, não? (não)

Engraçado como esse texto se constrói... Toda essa introdução nem existia no meu "projeto" de hoje. Resolvi escrever, primeiramente, por um bom e velho.. (como eu digo mesmo?..) devaneio. O devaneio em si (que ainda vou mencionar) nem vem ao caso agora;

A questão por enquanto é: pensei em escrever, abri meu blog, e vi com bons olhos - depois de longo tempo de desgosto - o seu nome de endereço

"o que dizem e penso"

De cara se percebe ser um nome sem preocupação estética, e é assim mesmo. Mas infelizmente foi apenas nisso que pensei depois de já tê-lo consumado e escrito umas 2 postagens - pois recebendo visitas e comentários, desejei ter um endereço melhor...

E eis que hoje noto que nunca parei para lembrar de seu significado (vejam só! um escritor que se esquece de seus significados!). Pois bem. Lembrei, e é sim importante: define minha imagem, o rosto do blog. É, afinal, a minha minúscula introdução! E sempre achei que a frase explica muito bem o que encontrarão aqui:

O que os outros dizem (mas que não posso saber o que realmente pensam)
E no que eu penso (pois tenho esse poder).

Ok, não é uma definição encantadora, ou das que tocam a intuição. Eu entendo esse meu período de desagrado... mas eu prefiro que tenha escolhido, afinal, algo assim... fiel à mim: turvo e bagunçado, mas até bem simples se me doam um tempinho...

E ainda enxergo vantagens em ter esse singelo filtro. É bom que saibam, já nos nomes, que daqui só saem impressões: as minhas (profundas, mas apenas por estarem muito junto) e as dos outros (mais ralas e suspeitas ainda!). Mas sempre apenas impressões...

E é bom que notem também que daqui verão nada muito além do que coisas potencialmente... chatas! (o que não necessariamente implica que eu ou meus textos sejamos chatos; mas se um sujeito acha, quem poderá dizer o contrário em seu nome?)

(nada do que escrevi foi motivado por críticas ruins... são só coisas mesmo)

___

Então... meu devaneio nem cabe mais. vou parar por aqui.

domingo, 13 de novembro de 2011

Você é minha poesia!

Você é minha poesia!
por amar a minha cria.
vê que há tanto lhe dizia?...
- bem custava a acreditar...

e já ardem os meus pés,
que, de um passo a cada dez,
pressupõem que meu cuidado
tem algum erro velado,
e se perde em tal viés...

e agora vivo assim:
do triunfo de que em mim,
com teu rosto aproximado,
dou cultivo ao rijo impulso
de ter tudo de dentro expulso
quando estou a ti colado.

mas à tudo dás indício
de que invoca minha tortura.
quando falo em seu ouvido,
e não muito se segura.
pois de mim sai um suplício
por teu corpo ao meu trancado,
que implora, desde o início,
os amores lado a lado

como então não é verdade?!
puro julgo apropriado:
o que tenho é saudade
se despede sempre assim: tão cedo,
e por que só volta à mim tão tarde?...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Foi!

Estou eu aqui; final de semana, como te prometi. Tecnicamente, nem mais até... mas, como as coisas que se leva no jeito, é sim: vim de um domingo e nele estou, até porque só se passaram 15 minutos e, no máximo, cheguei atrasado. Mas cheguei.

Mas nem pra definir nada de vez!... Não faço idéia do que falar;
mas nunca soube... e sai, não sai? É quando faço da vontade a prática, e nada mais. Nas outras vezes, tudo para no imaginário de um feito fantástico e carregado de acertos, que não cria mais do que fantasmas, e esses rodeiam até que se esqueça e surjam outros - o que é bem comum, pois a vida corre, as opções se projetam, e nelas a cabeça fica quente e pensante, só não pelas coisas de sempre (por sinal, especialmente não para elas!)... e tudo se anuvia.

E o que mais é um 'forçar-se à sentar e escrever' do que uma afirmação de vontade?
Chegar a ver o que empurra, acho difícil; nem eu sei ao certo.
Há tanta coisa aqui dentro que não saberia mais dizer o que é racional ou não.
Ou até onde isso importa...Bem já foi dito acima: louco ou sóbrio, 'frio ou doce, quente ou amargo', o que importa é colocar no papel.

E demoro. Demoro tanto que me chama a atenção. E por isso tenho feito escolhas mais próximas da minha superfície; pois, tal como a terra, lá dentro tudo inflama, mas é fora que há vida... E de tanto vasculhar, acabo apenas procurando - o que não é nada bom, com tão pouco tempo...

Então hoje estou assim: certo! Certo pra mim, certo de mim, ainda que não saiba de mais nada. E me sinto bem, pois sinto!

A escolha está feita, e pela intensidade. E não mais validade, não mais vaidade, nem mais sinceridade - mesmo ela está em xeque. Adianta a franqueza quando se está errado? E qual é o critério da verdade? Saber o que é melhor pra mim? Seria como 'aceitar' que já conheço de tudo, sentar e cruzar meus braços, à espera das coisas repetidas... não me agrada.

Escolher e pronto é uma boa verdade. Pois me deixa bem, e esse talvez seja o objetivo de tudo, afinal: saber querer...

Eu quero.

domingo, 16 de outubro de 2011

Coisas inacabadas

Dando vida a devaneios nunca foi um bom nome pra mim. Nem no começo, pois ali eu mirava um contexto para o início da leitura, e não um nome impactante e já polido; e pra isso ele bastou - não é segredo: já na primeira postagem eu havia dito que sequer me preocuparia com o que pareceria, e realmente é verdade. Aos poucos fui mudando o mínimo no site (e já está na hora novamente...), mas apenas por ser escancarado desleixo deixar de mudar o que se perde três minutos para fazer.
No mais, deixei como está e não me incomodo, pois ainda não vejo isso tudo como meu, mas sim como eu. E eu ainda estou menos pra títulos e mais pra conteúdos, o que e é até bom - pois se ainda assim lêem, com um aspecto pronto e improvisado desses, é porque gostam mesmo - e deverão gostar ainda mais do que posso fazer, pois no pouco que penso nisso, gosto do que vem...

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Também não é hoje que prosseguirei com o conto: ainda estou em busca de um final. E se perguntam: por que então comecei?, respondo: pelo mesmo motivo do título! Aceite que, para entrar aqui e escrever, devo estar transbordando. Mas constate: para transbordar, o que está de fora deve entrar, mas não é ele que, necessariamente, irá também ser jorrado.
Ligo, sento, escrevo e só. Não falo de amor por estar apaixonado, não falo de lixeiros por ter vindo tarde da noite pela rua - pode ser o inverso, e geralmente acontece assim;
O conto foi sumariamente expelido, porém gosto do rumo que toma quando nele penso; mas, por enquanto, é por demais um desafio - e os espasmos estão em prioridade.

vejamos se mudo

Essa postagem incluiria também uma poesia boba, mas... inacabada! Coerente, não? Está guardada, é que estou de saída agora, depois nos falamos...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

3h

Não lembrava da ultima vez que levara consigo um coração tão acelerado. Esse alerta súbito ocorreu por falha em seu planejamento - deveria ter partido há mais tempo, e agora a rua estava deserta.
Ainda andava de bicicleta - fato que considerava potencializar o perigo. Indo (vagaroso) pelos cantos, talvez pudesse se passar por vulto; mas assim devia andar no campo da pista, no alvo da rua, jogado ao perigo. E mesmo escolhendo agora as calçadas, ainda era ligeiro e grande - e quem não nota uma máquina e um homem, cortando carros e árvores? Preferia logo andar rápido pelo asfalto (frio, mas indolor) para usar ao menos a única vantagem que via em seu transporte.

Em seu itinerário de emergência improvisado havia contado com a rua da igreja. Já passara ali outras vezes, mas nunca fora tamanho obstáculo. Não bastando (em rotina) aquela subida gelar suas pernas, ainda tinha, especialmente naquele dia, uma lesão que até então só o havia incomodado - mas agora gritava por socorro. E ficava especialmente aterrorizado só de pensar em perder velocidade: não só devia, como queria chegar em casa...

E era incrédulo esse rapaz, pois tão logo lhe veio um mau pressentimento, já se pôs a dispersá-lo. Queria apenas chegar lá, os motivos eram óbvios: já há quanto tempo estava acordado? e o pique do que já tinha andado? Ainda não foi dito, mas vinha de muito longe e já estava exausto, seus olhos colados, também sua camisa, e só pensava na chave, na cama, no pouco que tinha na geladeira; em coisas de sua bela fortaleza.

E agora ao menos virava em uma descida. E já não era tão perigoso - a parte próxima de sua casa era tranquila por ser vazia, e não deserta por ser espreita. Decidiu fazer como faz quando está claro e inclinou-se para trás, manteve o guidão em mãos (ela tinha as rodas tortas, não podia soltá-la de vez nunca!) e fechou os olhos. Era tarde e não havia carros, e assim deixou que três quebra-molas passassem, no escuro, e depois reabriu para fazer a curva - pois aí seria demais!

E ficou pra trás a última rua quando, virando já na sua, avistou um caminhão de lixo parado próximo de sua porta. Pensou ser óbvia coincidência, mas logo em seguida percebeu ser um flagrante: não estavam de passagem, mas tinham todos descido do carro e ido à porta; batiam palmas e gritavam seu nome!

Como em um pesadelo, ficou tomado por arrepio trazido de uma súbita verdade irracional. Irracional por ter lhe esbugalhado os olhos e tirado o bom senso. Mas tudo fazia sentido para que não entendesse em nada a situação, e que notasse fazer parte de um inexplicável tão complexo que tinha medo de sequer estar ali.

Este é um esboço de um conto. Não espere que as coisas sejam paridas. Mas também não sei onde isso vai dar, ou se é isso apenas, e só.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mas, mas...

Hoje eu vou falar sobre coisas mais banais...
mas antes: talvez isso seja uma inversão de valores, e são essas as coisas legais, as que te interessa, pois - já de início - clica em mim, e não no vida a devaneios. 

E quem sabe não fale mesmo demais sobre o meu mundo ideal - que me aflige, sim!, por ser em minha cabeça tão plausível... mas que mesmo eu não o pratico sempre, por pura questão paradoxal: ver bem o lado do outro é dar-lhe também a escolha de se cegar de preconceitos, por gostar... precisar, ou ser assim.

e não deve ser tão importante...

... mas talvez seja mesmo o que faço sem querer: estar com um pouco de não-me-toque, mas no caso, um não te toque, como se pegasse numa ferida profunda para fazer curativo, mas ficasse com medo de machucar.

Que tolice. Quanto que, assim, quem ficou ferido não fui eu? E, por vezes, muitas vezes, injúrias feitas por mim mesmo. Será essa minha hipocrisia, das que vejo em tantos? E que ajuda a tolerar o parasita da omissão?

Pra que as mentiras? Há tantas! Pelo menos que tire algumas. Há o sonho, a fuga dele, as mentiras pontuais, as que se aprende desde criança... - e que, por isso, pedem até que não sejam chamadas assim!...             Eu chamo!

Eu chamo e sofro, pois o mais próximo do meu apontar de dedo sou eu.
Mas por que preciso eu, logo eu, estar enjaulado em praça pública, como exemplo para garantir a paz? Não é a guerra às vezes necessária para expurgar?

.....
bem...
... como vêem pelo início do texto, falei do que não queria, e não é agora que vou ficar me estendendo muito, até porque eu já gosto bastante dele e estou meio ansioso pra postar.

Tanto que eu vou é parar por aqui mermo e só deixarei uma boa música - minha preferida da banda. 


Abraço

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Agora deixa!...

Nem acredito que te vi hoje - e que não me viu de volta.
E pude estar ali contigo, mesmo assim: livre de mim - mas ainda tão perto... e tu linda como sempre - tem em ti algo que me enlouquece, e já começa nos passos, que flutuam, arrastam meus olhos ao teu encontro, e despertam um aperto gostoso, que parece empurrar pelas costas, como um amigo que vêm e diz: "te desembucha!"; e então vem à cabeça descer, correr até você, parar ao seu lado e, antes de qualquer reação - que apenas me reconheça - dar-lhe o beijo mais ardente que eu puder dar (e bem sabe onde isso pode chegar...), e depois soltá-la: mas apenas para que não dê tempo de que te revolte toda essa maluquice...
E ficar ali contigo por aquele pouco resto, parando o que tivesse apenas para te ouvir falar, e falar tudo o que eu sonhei que tu ouvisse. Falaríamos a noite toda, por toda a parte, sobre todas as partes, e só pararíamos esgotados, abraçados e com trégua declarada: talvez não tanto entre nós, mas entre mim e mim mesmo...
E se, por ti, não fosse assim: não me importo! Quero só o tempo ao seu lado, pois à mim nem um abraço deixou, e isso tem um gosto amargo. E agora, então, me deixaria assim: despedido e despido; talvez só o que tenha faltado...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Crítica à dieta

Para análise,

Notei alguns padrões referentes à minha maneira de lidar com a alimentação. Adicione uma xícara de tédio e temos um texto.

Ao se decidir por uma dieta, assume-se o caráter de insatisfação, seja perante o corpo ou a saúde. O meu é puramente pelo primeiro, apesar de enxergar o outro.

Essa insatisfação não exige grandeza, não precisa chegar a ferir. Mas pede, sim, uma leve - mas incômoda e perceptível - fricção de pensamentos, que fagulham vez ou outra, e é preciso tratar. Pois à sua volta encontra-se o que há de mais inflamável: outros pensamentos.

Com meu corpo, não tenho crises imediatas. Contraditoriamente, isso tanto me alivia dos efeitos na auto estima quanto me priva das ações brutas e enérgicas - o que há de útil nas decisões. Então fico no vamos levando; mas é logo esse pensamento, acalentador mas debochado, esse fio que eu pego no ar e encaro, que me leva a criticar. A dieta é, por si só, uma crítica. E se isso já não passa despercebido, muito menos admitido, e, ainda assim, hoje, pleno domingo, depois de um farto final de semana, eu ainda penso em comer e, pior, em pensar em pensar em comer (sem ver melhora), há alguma coisa de errado.

Tudo foi bem no espontâneo, na excitação do movimento - no início. Um plano fresco e impregnado, que ainda excitava pelo cheiro, e elevava o menor passo. "Há uma meta!". Do impulso, aprendi a comer bem. Por três dias, se não estou enganado.

Depois desse período, encontrei os espaços entre as refeições. Ainda que não comesse nada de danoso, havia rasurado pela primeira vez o plano inicial. Dali, fiz valer o jeitinho brasileiro mais legítimo, o de dentro pra dentro mesmo, e que se comete contra si, como cúmplice e culpado. Desses desvios legitimados, além de suprimir o direito à regalias e exceções - o que era muito bem apontado quando queria um capricho - ainda acumulava desacatos à dieta. Daí, o zelo pela meta já estava posto em dúvida, e todo o processo de privações e escolhas se enfraquecia. 

Passado mais alguns dias, já não comia tão pouco nem tão pouca carne. O fato de aumentá-la definiu o que viria: já não se tratava de uma mudança, mas de uma experiência. E essas admitem erros. Tal noção me levou a aceitar do andar ao parar, e do parar ao voltar. Vindo os finais de semana, ainda me entregava à reverência típica dos feriados. Veja que por isso não temos muitos, pois o festejo interrompe o trabalho. Mas nesse caso as folgas são pontuais, e o embalo nunca acontece.

Hoje, considero o limite ultrapassado. Continuar chamando de dieta chega a ser um insulto às dezenas de coisas deliciosas que comi desde quinta a noite. Talvez por já ser um pouco final de semana. Que cara de pau.

Que isso fique guardado; não como arma contra a comida, não como grito de ajuda, não como sintoma de sufocamento. Que as informações sirvam para o mais puro estímulo... da escrita pela escrita.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Categórico!

Antes que seguisse em frente...
bate à porta o velho amigo
- pelo toque já se via.

e entra o rosto, indefinido,
junto ao fresco ar poente -
que, ao contrário, nos sorria.

tem em mim o que lhe serve
de armazém do que é sofrido,
após tanto, finalmente:
e é por isso que se escreve.

em bom trono acolchoado,
à minha frente assentou,
trouxe a perto umas cobertas,
ao seu rosto as mãos levou...

tinha as pernas muito incertas,
assim quando o frio acomete
mas, por julgo, eu diria
que seu corpo sacudia
pois a si tudo promete

não que nisso haja o errado:
salve o homem enfatizado!
mas que grife a si primeiro
pra que deixe longe o risco
das lambanças de um arisco
caso grave e corriqueiro

esse cego, conivente
com o ser idealizado,
no que enche suas lacunas
com um som doce e melado
e aperta tanto à pele
que não sai nem com arado

e digo


ainda hoje, junto à cama
no teu corpo que esparrama
vem tal voz, em tom de calma
e sua atenção reclama,

lhe evitando todo o sono

seu suspiro inconsequente!
dê descanso à sua mente
amanhã o dia é branco
e assim não vejo como!


da postura que retomo
dou-lhe um tapa, e da troveja,
levantou em um só pulo
e saímos para uma cerveja.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Small blue

got me thinkin', babe
ain't no port's gonna satisfy my rush
of your golden eyes, and maybe
this hole tale's only about my lust

this huge flame, m'lady
it resides in the tip of my knees
keep the spread of maybes
and my soul tightly disagrees

i cannot go, darling
please contain your cursed calling
you make me a slice of flesh
even less, behind you crawling

Just go on what you believe
as i can someday relieve
a warm mind from a cold dream
of a love never conceived

(four minutes guitar solo)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Já viu a hora?!

Pretensão é achar que entendem minha loucura. Escrevo fundo no que fundo eu cavo, deixo tudo esburacado e não encontro o que procuro. Que falta de capricho... preciso do que assente e aproprie para cultivo. Ou continuarei cumprindo ordens infames, indignas de um agricultor da minha estirpe.

Chorei de novo e ninguém viu. Não mais tão forte, mas acontece: quando então, deixo-me levar, ou não o entendo...; Como o inexistende vira causador? Inexiste o amor, inexiste a dor. Mas lê-los já faz sentir. Libertam o colorido... mas por que não regulado? E tamanha permanência? Não há nisso uma implicância? Um tom maldoso que persiste em nos convercer da sua força, e se hospeda como pura prova - contínua e cruel - do seu domínio?

E alguém mais dirá que disso aqui sai só tristeza... Deixe de tolice. Não sente um sangue neutro se esbaldando em artimanhas, bancando um valor no qual acredita, usando o que tem dentro como uma forma de poder? Deduza que eu faça uso, e não que deixe ser usado...

Para os que leêm até aqui, é obrigatório comentar. O anonimato é livre, veja só: dou-lhe o único poder que o homem realmente quer, e você têm a sem-vergonhice de abaixar a cabeça para não ser notado?!... eu to te vendo!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Quebra a cabeça

Dizia Nietzsche que sua desenvolta eloquência literária era fruto da maturidade frente ao que era dito. Não só por enxergar de patamar elevado, mas possuir pleno manuseio das causas tratadas, pois, tendo superado o agente do incerto - e, nesse caso, as verdades são ajudas insípidas -, torna-se o homem um senhor de si mesmo; seu olhar elevado enxergaria as fronteiras, e, se os encaixes parecem sempre distintos e bem acomodados, é pelo fato de já ali estarem, pelo teste ou imposição, e parecendo agora regra, mantendo com vigor cada um de seus espaços como se fossem reservados, como se fossem seus. E diante desse limite enevoado, surge o medo. Conta que, atraido pelo seguro, e desapegado da escolha, o homem abre mão do mundo à sua maneira, e, de míope, joga - e termina gostando de jogar - pela regra que já existe, com impressão de que nessa persistência deve haver algo de vigoroso, sublime e, logo, forte e digno de ser seguido. Mas que não passa de um árido delírio pelas convenções, pela aposta fácil - e ganho medíocre -, por coisas que foram ouvidas, e do ouvido foram direto à boca, e não à mente. Porque a própria mente é fundada em tantas normas emaranhadas - e, nisso, o numeroso mais atrapalha -, que dentro de si parece ter resposta para tudo, como em um quarto bagunçado, com muitos itens e de todos os tamanhos e cores, que, se num olhar distraído parece uma boa fonte de onde tudo jorra ou pode, no fundo é apenas caos.

E no caos nos conhecemos. Que se note...é a todo momento. A força das representações (tudo) arremessa sem dó esse bando de frágeis seres, tão ligados ao que dizem, surtados pelo que criam, mortos pelo que acreditam... e acreditam em tudo! - ó, sim... isso é pecado! São tronos de contradições, mas não se percebem. E... isso se deve dizer... nem mera característica é. Incoerência também é evidência, talvez a mais natural que se chegue por nossas vias. Diante disso, me divertem os clamores, mesmo os meus.

deixe-me, rigor!
postula o que tu acha
mas não cobre isso de mim.
não tenho em ti um fim
no que quero ao meu futuro,
suas amarras são um muro
que reprimem meu amor,
e me fazem ter louvor
pelo que está lá fora.
vai-te embora!!
e me deixei ir também...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bem sei de tudo...

Ora, então é isso? Nada além do que sempre suspeitei, mas que pouco considero? Ou sequer dedico tempo à causa...?...... E por isso a indiferença?! Por tratar como uma crença, que me chama a atenção, mas não me afeta? Ou que pouco em mim desperta o que venha da vontade???

Não precisa prolongar o que dizes pelo ensaio... Eu sei bem o que fazer e não lhe devo atenção. Deixe meus partidos e mova-se com os seus. Não são meus os filhos teus...

Ora, venha cá, também não me leve tão à mal!... Não te passo para trás, apenas quero chegar muito à frente, e por isso às vezes te perco de vista.

E, quer saber? São mentiras quando digo que eu tenho algum domínio, ou ao menos faça ideia do que deva acontecer! Por esse lado, não deveria já tê-lo feito? E empregado nisso todo o meu suor?

Mas sei bem do que sou capaz. E, tão importante, também do que não. Pois vantagem de enxergar não poder é notar que são tão poucas coisas!... e se aninham em espécie, sendo todos muito parecidos e excêntricos perto do que temos em mãos com a qualidade de possível.

E esses sim, são tantos!! Verdade que alguns mais difíceis que outros, mas na primeira consulta ao seu eu indagador já tens alguns caminhos possíveis... Aí sim... levam anos ou segundos. Mas, deixando o tempo de lado, apenas levam...

E levam sim, pode ter certeza! Vira e olha pro que já foi feito! Temos algo além da curiosidade? Ou acha que navegantes de outrora carregavam apenas medo em caravelas? Sonhos e pesadelos, sim. E lá todos os pesadelos são ruins??

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Devaneio

Viu que nada do que queria se cumpria. Que, por menor ou maior sorte, tudo terminava longe do meio termo. Bem nessa hora, quando pensava ser radical para um dos lados, era corrigida então sua categoria: do julgado ser de valorosa imaginação para medíocre pelo que tu conhece (e por ser só isso). E depois de se ver boquiaberto com o que lhe acabara de ser possível existir, por mera questão de ter existido agora perante seus olhos, percebe que não foi nada além da sua primeira vez para aquilo, e admite não fazer ideia do que não acontece a si. Enquanto pensa nisso, em coisa tão vaga mas grandiosa, importante porém não demonstrada, é tomado pelo valor desse pensamento e se assusta, pois, se tem ele, em um momento qualquer, de um dia tão sorteado quanto esse, compreensão tão sublime do que foi, do que é, e do que pode ser o mundo, o que então é o mundo?

Entende agora porque ama as pessoas. É daí que tira o que é novo, sua maciça inspiração. E o que não lhe agrada ainda assim faz pensar no que o agrada. Pois o encaixe dessa peça, mesmo que não se queira ou lhe seja de tanta importância, é inevitável. E tudo o que assim é se mostra no mínimo curioso, de máximo incalculável.

No entanto, nota que os máximos lhe pertencem, e os mínimos aos outros. E quanto mais sabe, mais lhe dói. Ou se não dói, pesa. Ou se não pesa... não sabe. Não que seja ruim. Ainda assim prefere o cru ao fingido. Mas os sinais e os discursos agregam sentido a cada novo inesperado - e quantos não são eles!-, até que aos poucos tudo sai do implícito e se escancara logo em um palanque do comportamento, daí tirando todas as intenções possíveis, para o bem ou para o mal. E seu único desconforto autêntico é ter a vaga impressão de que o esforço natural, esse que acomete a todos menos à si, é o de teimar que as únicas coisas que importam são aquelas que ficam próximas à vista.

Se distrai com um estalar de madeira e não lembra de ter pensado qualquer coisa a mais aquele dia.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cataclismo

Todo um lado do hemisfério em pura chama
que de longe no universo já se via.

Bem no dia em que matou o que se ama
a besta imensa, que no mar se escondia

Há um tempo que nenhum de nós proclama,
essa trama em silêncio se expandia

Tudo frio e insensível aos nossos mortos,
não se cansam de levar mais alguns corpos



E do lote em que o campo foi poupado -
não esperem redenção para uma parte -

Foram todos carregados pro outro lado,
já sabendo do destino do abate

Em um golpe tudo fora aniquilado
sem nenhuma resistência ou combate

Alastrando a toda gente o suplício
remetendo aos velhos tempos do início



Mas um fato que confunde a intenção
enlouquece os que sofrem a própria sorte

Uma dupla sobrevive à extinção
sem recurso, alimento ou transporte

E duvidam da sua própria conclusão
de que isto é melhor que a própria morte

Mas resguardam a restante sanidade
que lhes sobra a esta altura da idade



Dois antigos moradores desta terra
encorpados pelo ensaio prolongado

Esgotados com o susto que se encerra,
pelo embate, padeceram lado a lado

Com a dúvida que ao raciocínio emperra,
nesse monte de espaço desolado

O suspiro da linhagem da sua raça;
dois poupados pela impiedosa caça



E passava meia hora do estopim,
quando o céu se apresentou tempestuoso

Quando as águas se agitaram, e enfim
levantou um ser terrível e monstruoso

E nem muito precisou pra ter um fim,
o demônio tinha ataque virtuoso

Não há um só argumento que sustente
dois idosos dentre toda aquela gente...



E mantinham o caminhar esbaforido
como quem ainda tem do que correr

Mas no fundo sabem que já foi cumprido
o dever da besta, que o céu foi percorrer

Andam contra o campo há pouco destruído
de onde o sangue continua a escorrer

E deixando então de lado a sua pressa
um dos homens faz ao amigo uma promessa:

continua...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Desce cá dessa varanda

O meu mal é a empatia à sua fria simpatia, que me enfia pelo peito agonia e prazer!...

Quando a pele inanimada ignora o meu toque, mas o teu sorriso breve acalenta e faz crescer...
uma penca abandonada, em boa terra, adubada, mas pouco farta e sem semente, deixa fome aos que vêm em frente, e o pouco alimento dura até o amanhecer.

Mas persiste no existir, e prospera forte ali um punhado de palavras, friamente embaralhadas, trama turva que abala tudo meu que é afirmativo, com desprezo imperativo, que sacode e daí tomba o juízo, quase dando prejuízo, se não fosse o que eu quisesse!

Então venha cá! Desce! Me abraça agora! 
Toma o corpo e me aquece! Esquece a próxima hora! 
Eu não tardo a ir embora! Tenho já os dois pés cá fora,
mas não tenho aonde ir...

Deixarás morrer aqui?! Sem nem ter o que vestir? Nem um pano, nem a ti?

Então tomo a palidez que me cai pela cabeça e me conta a verdade...
não que a noite me entristeça... mas desisto que aconteça! Vou-me embora com a saudade...

E a lua acompanha os meus passos e minha manha, de sugar de um belo astro sua centelha de calor...
e fechando minha sorte, se esconde na montanha, me deixando na penumbra de uma noite incolor.

Mas quem nunca a si mentiu? Hoje sinto esse sabor... não aceitas como antes minha oferta tão gentil... sentes gosto de anil, no que era pra ser amor...

sábado, 11 de junho de 2011

Babe, since i've...!

bem.

Mostra 1:35 o celular. e isso é importante... não deixaria sem aviso, e certamente passaria batido pela maioria. quem lá se interessa por horário de postagem?

Mas e o que não nos traz a madrugada? nem é preciso tanta melancolia... o que não nos traz a própria noite, mais jovem e esperançosa? que tantos de sentimentos experimentamos!, sombreados por esse lado rebelde, desencanado - do dia - e... fotográfico, diria! já que a manhã traz logo o que ela é, e a noite o que fazemos dela. é um ponto de vista que me atrai... o de considerar o ser humano. ainda mais falando em luzes! como sabem disso os homens! criam magníficas luzes de todos os tamanhos e tons, e dão bela maquiagem às nossas cenas, a cada noite...

Vejam, por exemplo, minha condição atual. estou sentado no quintal da minha casa, e os vizinhos - obrigado pelo costume - deixam as suas todas apagadas, o que torna meu local deslumbrante, principalmente à luz de luares bem fortes que costumam bater por aqui. não é o caso de hoje. o céu está avermelhado, o que não deixa de ter seu charme. e eu deixei uma luz acesa bem ao fundo da cozinha, de forma que pegue apenas em meus pés. e o tom dessa luminária, um suave amarelado, harmoniza e se mistura com a luz natural, lembrando um degradê e me fazendo rir agora que eu estou percebendo...

A noite é uma condutora nata de ideias, e esse alto fluxo acaba por levar ao ápice todas elas. não há meio termo, apenas extremos e suas sensações. é onde os absurdos e os largados entram em pauta, passam a circular sem preconceitos, sem olhares incomodando, como se fosse a hora deles. e, de fato, pela noite circulam ideias de bestas a geniais, as apaixonadas e as excêntricas. o que é dormir a noite, para quem tem o que pensar? e o quanto mais não estou eu inspirado por esse cenário que vivo agora, do que estaria ao apenas escrever pela manhã, mesmo que ouvindo os pássaros?

Se perguntam por que não preferi dormir? se não, fica aqui mesmo assim, por que eu me pergunto... vim andando de uma festa próxima. preferi não ir longe pela noite fria e o dia de cansaço: por estar acordado - sintoma dos que levantam cedo. e, como dizia, vinha andando, e mesmo eu, sempre tão organizado, estava em confusão - meio que sem saber no que pensar ou mesmo fazer qualquer leitura. e recordo ainda de estar ouvindo since i've been loving you, do led, e - ao menos que me lembre ou, se mesmo lembro!, me é muito obscuro - poucas vezes ela toca em meus ouvidos sem me causar sensação alguma: e de tudo! e é engraçado pois essa beldade não é nem um pouco aceita por alguém que eu conheça, a não ser por mim e pessoas da internet. mas lá sabemos se essas pessoas de internet existem de verdade.......

Pois eis que since - olha! eu chuto dizer que é a minha preferida de todos os tempos... mas sou comedido - não me afetou! passou tão matematicamente como os passos que eu dava. e toda a interpretação, e o peso rasgado, e o baixo romanticíssimo dessa obra prima do rock - apenas passou pelos meus ouvidos...

E vi que tinha algo errado. me coloquei a pensar novamente, e acabei construindo toda essa postagem.
Agora, apenas escrevi.

Boa noite, vou dormir.


terça-feira, 7 de junho de 2011

Quando vens me visitar

Hoje não estou pra poemas,
mas também não tenho prosa.
gosto tanto do seu toque
e do jeito que ela goza
de gostar sem pretensão,
promovendo arrastão
de besteira tão macia,
que ao ouvido balbucia
e vai direto ao coração...

coração deficiente!
não se importa com a mente
do teu dono, que ao léu
é jogado até o céu, e, virado para cima,
com visão do azul que impera,
mal se nota em queda livre!
ou percebe o que lhe espera...

mas tua doce voz tempera
e me põe a remexer
basta só uns beijos teus,
mesmo uns meus em que tu ri
e já passo logo a crer
que o sentido oriundo
dessa vida, do tal mundo,
do meu desejo mais profundo,
se encontra ali...
o mais perto que eu já vi!

só eu sei dos meus delírios
quando vejo esses teus lírios!
que me tomam como um vício
e consomem, desde o início
e até tarde, esse meu ser!

e que muito pouco informa
que já toma a minha forma,
de uma forma tão potente 
que não olho mais em frente
e só teus olhos quero ver

pois mesmo lá eu no meu canto,
tiras - sei lá de onde! - encanto
e meu corpo se esparrama,
me derruba e deixa de cama,
só pensando no querer

da mordida em teu pescoço!
ah!, amor!, se tu soubesse!
o que tens é um esboço!
chegaria até perto do osso!
se não fosse te matar....

pois dali sai um perfume
que não sei se é verdade...
porque sinto qualquer coisa
- nada fica na metade -
quando vens me visitar

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A cura do desiludido

Essa postagem já seria a minha próxima. Mas foi motivada a sair logo da cabeça pela minha prima thaís, que pensa como eu e me fez ontem acreditar nas minhas próprias palavras.

_________________________

Que peça engenhosa! Que maravilha de design!... de desenho do comportamento! Essa obra iniciada há um tempo que nenhum de nós tem a propriedade de imaginar: nosso senso de compreensão, esse que consome o que se desenvolve à nossa volta - o velho, o novo, o estático, o que se agita em desordem, o harmônico, os sons, as frequências, o que é quente e o que é frio, e tudo mais que nos arranca o desinteresse, a indiferença; esse senso que é despertado, excitado a cada milésimo de segundo, fazendo perder o próprio segundo o seu poder de unidade, de referência de pequeno. Pois se em tão minúscula definição de tempo, já se perde a conta de mundos visitados,  ou condições experimentadas (e por que não grandiosas, mas fugitivas natas, que se perdem tão rapidamente quanto surgem), o que não se faz com minutos, horas?!... -, esse senso não conta com estrutura para entender a sua própria construção! Ele mesmo é construído pela auto digestão, que renova sua propriedade de reflexão, mudando o mundo que se vê, que retribui e muda ele, que o muda de volta, e depois é a vez do outro!... e fica nisso... para todo o seu sempre! Esse senso que não está ligado – ele é ligado – e independe de memória ou informação passada: ainda que no fundo seja apenas isso, ele atua no presente, e apenas ali, no espaço do iminente, do estalo! Ou nem se deva dizer que chega a um estalo, aparenta ser menor que ele... e talvez nem se misture ao tempo!; mas ao menor instante se aprimora, desses incontáveis que nós vivemos. Esse é o instinto!

Ora, mas e a cura, onde? Pois a cura, o trato das patologias, é o seu conhecer. O saber mais, a quebra incansável de todos os elementos, até que sobrem fragmentos, mas ordenados: o sopro de clareza que ajuda a se apossar do sentido do todo. A construção é a origem da evidência. E só se fala em evidência, em ter poder sobre ela, com o mínimo de trato minucioso, paciente. E esse instinto, e a maneira como se infiltra e domina, o seu modo de operação, são essenciais para entender o que acontece ao desiludido... e entender é ter força, é manuseio, é controle! Estar acima de um problema é enxergá-lo de cima e, tão importante quanto, se enxergar de cima! O instinto vai contra tudo isso, é essencialmente caloroso, interno. Visão de momento, apenas naturalmente renovável. E por tudo isso, há de se aprender a separá-lo da parcialidade emocional frágil, incompleta, obscura e duvidosa. Pois ele, enquanto sistema operacional, exige um posicionamento incisivo, de mudança, de movimento e melhora!, ou então se põe a serviço do inseguro, e se volta contra o indivíduo, servindo de incentivo ao confuso, obstruindo o real desejo, pois mesmo isso pode se encontrar meio indecidido, sem saber no que se apoiar ou mesmo diferenciar o que se quer e o que se acha que quer...

Perigo, ao iludido, é o desejo vago. A indefinição da sua vontade é o atrofiamento do impulso, um sufocante golpe ao apetite verdadeiro, à vida intensa e levada ao extremo, ou mesmo à vida em si. É o abafo do mais puro e sincero sentimento que experimenta o ser humano: a fúria do querer! - e que o capricho da covardia, do pensar demais, assolando mesmo a intuição, reprime o próprio ser humano em prol de jogadas acanhadas, ajustadas ao mundo do outro, que se assemelham à suplicas para que dê certo, deixando o controle da sua quietação em mãos que não são suas. E este é o maior erro que se pode cometer, talvez o único - é um atentado à vida, à boa vivência, e mesmo à elevação do seu ser - que se subjuga, colocando-se em patamar de igualdade aos demais e assumindo assim não ter força, quando deveria agir com os modos de um animal, que se sujeita às linhas de sua programação e apenas faz! O homem nem sempre precisa agir como homem.

Mas esse último parágrafo é apenas uma ressalva. Pois se começa errado, termina errado. Não por superstição, mas pelo comportamento em vigor. O que divulgo como cura precisa de certeza. Essa é, de certa forma, a cura em si. Ela está em todas as etapas: a certeza de querer esquecer, de não mais querer, do se querer bem! O justo consigo é capaz, soberano, aprende a por fim ao que vai contra ele. E com isso, pouco chegará a se iludir - e não só por evitar criar expectativas (a única que se cumpre por inteiro é apenas a de si para si), mas também por saber lidar com as abatidas. Ele se enche de poder, não admite ser encostado, maltratado, pois ele próprio é o valor maior. E sua vontade se infiltra, e faz acontecer, não espera. Essa é a cura em sua definição teórica.

Esquecer não é um ato; é a ausência de um. O ato que asfixia e traz pesar é o de admitir querer esquecer. Ver à força, na resposta que tu recebeu, os sintomas que denigrem o seu pensar, aquele desejo ardente de querer amar, botar toda a ira, a luxúria, a sua paixão cega para fora! - e ser esbofeteado, puxado pelo pé de volta ao fundo, quando já chegava à superfície... e, tanto quanto lembrar dos teus sonhos - que afloram ao natural, e te era prazeroso enquanto tinha abertura para colocar tudo aquilo em forma, criar aquela sua realidade (não há nada melhor do que construir na realidade o que se tem por dentro!) - agora sofre em duas frentes: a de admitir que o desfecho planejado não mais tem valor e administrar o ainda querer, empurrando-o com força capenga e indecisa de volta à categoria de fantasia, simples fábula... admitir que eram todos personagens de história inventada, menos você, que sempre esteve sozinho, e isso agora lhe foi cuspido....

E tudo isso não passa de um assassinato de ideia. mas mesmo que não configure um crime, é tão difícil quanto o ilegal, pois em ambos a dificuldade é a de assumir frieza, e manter a posição gélida, de querer fazer não mais viver, e não apenas deixar de lado todos os sonhos construídos - eles são de natureza idealizada, logo fortes!, persistem com sua ideia, trazem ainda (malditos!) prazer, quando por um minuto se desliga da realidade... -, mas botá-los abaixo, implodir o teu próprio patrimônio, já que aquilo não é mais fértil e só atrapalha uma nova construção.

E quando ele surgir, com a tua decisão como armamento, se entregue ao impulso da indiferença, com a diferença de que é uma ação de ataque, desta vez, e não um desleixo. Não há redenção sem sofrimento, não se esquece sem admitir a morte com o seu sepultamento! Do contrário, a putrefação do corpo continua a trazer lembranças velhas, inúteis, do que se foi, do que não foi e do que não será, e acompanha ainda o mau cheiro característico do que está mal guardado. E é só disso que se trata! De morte, da privação de vida e vontade da sua ideia morta! Admitir o nunca mais - ver, falar, tocar, beijar, ouvir... imaginar tal ideia! Nada mais disso importa. Nada morto importa.

A única coisa que importa é a sua vida pulsante e as escolhas apaixonadas! E a ambição por mais, e mais, e mais, e mais... e quantos outros mais sem repetir, sem que isso sequer possa chegar perto [de chegar perto (DE CHEGAR PERTO!!)].....de esgotar a graça da vida. A própria vida em si é a maravilha!

Nada mais.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O canto do desiludido

já de longe se percebe uma expressão desiludida.

e, só daí, já se sabe toda a história recente
desse largado - mero defunto com maneiras.
ser exaurido de qualquer estima:
por seu corpo, pensamentos,
lugares onde passa, mesmo as coisas
que sempre vê e acha lindas
- o mundo visto de um alto qualquer, camadas coloridas
de um sol poente, o aconchego da sua cama e quarto escuro;
mesmo o prato que come, ou as roupas que lhe caíam bem,
hoje nem percebe vestir, passa batido
pelo seu senso; sequer acha motivação
para perceber, pensar nas coisas. e sabe o fim
de todas as histórias; e tudo está sem gosto,
mas deixa um gosto ruim na boca, que desce pela garganta
e incha, incha, até preencher
todos os espaços e faltar ar, fazendo sentir
tudo espremido, sufocado,
prestes a estourar em seu peito; e queria ele
que isso acontecesse, e saísse tudo
aquilo de lá, num ato repentino, que rasgasse
o que visse pela frente, como em uma redenção,
como justiça pela dor que sofreu, e enfim
lhe foi dado o perdão - e então era livre
daquele fardo, de ter vivido tudo aquilo, e agora tem
escolha por sofrer ou não,
esquecer ou não.
mas isso não acontece
e a saída é lutar; mas ele é um miserável
e essa é a própria causa da derrota em sua cara
- está sendo derrotado!
e a cada tapa dado, leva cinco!
pois se por um instante tem a glória do descanso
- que uma luz bata em seu olho, ou tome um susto sadio,
e sua mente, em apenas um estalo, se esqueça
da sua condição, e lhe abafe a enfermidade -,
basta a claridade ir embora ou o corpo acalmar
que ele passa quantos outros dias forem
sem ter outro instante de sossego como esse.
mas seu maldito corpo é forte! e ele está vestido de capaz,
mas quando olha seu reflexo só enxerga um moribundo exausto,
pouco reconhece seus traços, ou presta atenção ali.
apenas vê o que é um retrato do fracasso. um belo quadro
estragado por um vândalo e um balde inteiro de tinta.
e agora a mancha está ali, marcada, gigante,
berrante, pra quem quiser ver,
quem sabe rir da sua desgraça!
e parece que ninguém vê! e queria ele também
que todos vissem. e recebesse conforto por isso,
um afago sem vontade, que fosse, ou ao menos
esmolas! para que se fingisse de criança e gastasse
em uma fonte dos desejos. pois tudo vale nessa hora.
mas esse tudo ainda é pouco; e o que ele tem não lhe quer,
e o que agarra, lhe escapa. e queria que essa regra valesse
para o que abriga em sua mente. ou que o salto dado pelo homem
no manuseio das coisas da terra já tornasse possível
dar à sua cabeça  sensação de oca, ao gosto do cliente.
mas não é cliente. Isso ainda é assunto do instinto,
e a paixão lhe consome as entranhas,
e fingir que ela não existe corroe
cada pedaço do que está abaixo da sua pele,
mas ela ainda te deixa com aparência de normal.
e aquilo está preso e é invisível. não sai
pela fala, não sai pelo choro, não sai
por abraço. como brincadeira de mal gosto,
onde o mais palpável é o pensamento,
logo depois o sentimento.
e não há nada além disso.
e aí se descobre o quão incapaz
se é de botar as coisas pra fora, da maneira
como elas são! e de tão ínfimo o tamanho
do que sai, perto do que entrou,
vale mais ficar calado a perceber
que é em vão o seu esforço de fazer
o outro sentir a sua solidão, de abrir
o teu peito e mostrar a tua desgraça!
e parece mais um pouco, que o pranto
dessa praga foi concebido em conjunto,
por todos os outros seres humanos,
como traição coletiva – a maior já vista pelo homem!
quando então foi combinado que todos se fingiriam
de felizes, mas nem precisaria tanto... o controle
em não pensar em coisa alguma já faria
o desgraçado suspirar. e é assim que ele os vê.
todos indiferentes por escolha, e tudo isso conduz sua solidão.
e maior for sua dor, maior parece a multidão
que encontra nesses dias tão sofridos. e navega
nesse mar, tão mais só do que se só estivesse enfim.
mas ainda que infiltrado na fria maré do dia a dia,
é muito simples reparar no leve ponto de calor,
que consome e não se espalha. e morrerá sozinho,
sem que ninguém perceba. e sequer será enterrado

já de longe se percebe uma expressão desiludida...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Alicerce suspeito

Será que estou com algum verme da compaixão entranhado? É fácil se esconder por aqui. Estou sempre revirado, gavetas abertas, coisas jogadas pelos cantos, entornadas, cacos espalhados... um perigo! Não é difícil ao parasita incrustar-se em ambiente tão receptivo à sua essência – camuflada, astuta, cheia de intenções...

Nunca me foi problema, inclusive sendo parte do meu orgulho por longo tempo. Mas já faz um outro longo que, suspeito eu, tem sido a causa da minha inquietação, da desordem estabelecida em meu distrito.

Pois me vejo diferente. Diferente dos outros, diferente do que almejo como gente. A compaixão é nociva por tendência a se dissipar, trazendo consigo o discurso político e travestida de inesgotável, reutilizável, primordial. E mal se percebe quando atinge o patamar de nascente conceitual, deixando de ser apenas uma entre várias características da opinião.

Ainda não entende o mal? Me enxerga arrogante? Me vejo assim quando assumo a perspectiva de alguém de fora. É natural quando se aprende a tratar as coisas sem não-me-toques. Mas também aprendi a separar o que se pensa do que se faz. Escrevo isso com uma serenidade respeitável, até simpática! Sem pertubações ou influências - não estou magoado, irritado ou com vestígios de vingança. Os últimos sequer passam muito pela minha cabeça. Essa é uma análise pragmática. Eu sou pragmático.

Ao dominar as ações de um indivíduo, a compaixão torna-se viciosa por se assimilar ao puritano, ao perfeito. Expõe esse usuário a um estado de conformidade e submissão, que ao primeiro olhar é compreendida como generosidade, sendo amplamente aprovada pela sociedade, e adquirindo contornos de ideal, notável. O status a ser alcançado. Mascarada de vantagem dedutiva, ela molda a personalidade em uma forma que torna difícil a transgressão, em seus variados níveis e conotações.

Inibe-se em benefício alheio, e o exercício prolongado aperfeiçoa esse comportamento. Em pouco tempo, essa continuidade encapa a personalidade com um revestimento altruísta próprio, e não se nota mais a desvantagem desse proceder.

Quando se é acostumado a considerar diferentes pontos de vista, um fio de sensibilidade, que seja, já te torna uma sirene de alerta às causas próximas. Escutar o outro traz peso, discordar dele entulha a consciência e tomar decisões vira um desafio. A necessidade de manter o equilíbrio entre o que se quer e o que “deve ser feito” traz sintomas de ansiedade, reprimi o instinto, e a essência do desequilíbrio, que vem de fora, acaba sendo estocada na mente do próprio benévolo, coitado! Ele se torna um depósito de desejos arquivados em prol de um bem estar universal que não lhe é pedido, mas ele jura ser de sua responsabilidade...

Em miúdos, torna-se um covarde com propósito. Propósito disfarçado de unânime, mas de miolo omisso, pois conta com a aprovação de todos em volta, menos a própria.

E culmina na desvalorização do tentar, do risco, do próprio ser. E a graça da vida escorre junto com o tempo. A graça do incerto, de não saber, do ímpeto, do “foi de supetão”. E tudo fica meio de molho... como estando sob controle, mas nem é bem isso que se quer...



… maldito hospedeiro.. eu vou achar essa desgraça! Tem que estar por aqui! Tem que estar.............

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Deus e o mendigo

Mas se deus estava lá
onde estava o seu perdão?
- começou o bom mendigo

Muito tempo se passara,
tanta mágoa acumulara,
e mantinha o seu castigo?

“Já não basta ao julgamento
do ser todo poderoso
um miserável arrependido?”

E o coitado se pôs a pensar.
Era tema usual, de outros tantos que lhe visitavam. Mas nesse chorava. Punha-se encolhido, com as pernas dobradas, servindo de esconderijo para seu rosto alagado. Já passara a época de se importar com as pessoas arrumadas, mas ainda se envergonhava frente aos outros mendigos.

O gemido impregnado
na sua voz da consciência
tinha anseio de argumento

Pois quem sabe poderia
amolecer o criador
com algum outro lamento...

Só não é o que parece
já que em todo esse tempo
nem sequer foi respondido

Um arrepio,
um presente,
uma voz sussurrada,
o vulto de um ente,
“diga, deus
- não me faça um iludido -,
é só o que tem em mente
como cura a um doente?”
...
Pobre ser que só precisa
se sentir um pouco gente?

Já está farto de brincar
não confia em ilusão
e faz tempo que não teme
o que não seja a solidão

“Se estás me ouvindo agora
então logo a ti declaro
pois se guardo para mim,
e me julga o inconsciente,
pode não ficar tudo claro:

Quanto mais eu me debruço
sobre a pena que a mim pôs
mais eu vejo erros teus
- e isso fica entre nós dois”

“Pois não vejo em meus colegas
esse tom questionador
esse fina indiferença
de não ter o teu amor
pois parece que a eles
tu parece mais opaco
que será que eu não vejo?!
Será esse o meu fraco?”

Mas o fraco de que fala
não lhe faz nenhum sentido
dos que vivem como ele
é o mais bem sucedido

Aprendera a se virar
sem ajuda de ninguém
a divina é só mais uma
das que nada obtém

Não tem peso em suas costas
luta até não poder mais
o seu choro é de saudade,
não por causas tão banais

Sente falta de casa,
do cão,
das joias em sua mão,
da boa solidão
- e não a que tem hoje

De sentar à mesa pra jantar
ou um leito macio pra deitar
e um pano grosso que cubra seus pés
pois sente frio ali

Sente falta da sua letra,
do estufar de uma refeição
ou quando ainda preocupava a aparência
....
hoje mal tem afeição...
ao seu corpo ensebado

E pensando nesse tanto
de lembranças insolúveis
cessou um momento seu pranto
virou para deus e seu manto
e com modos de homem valente,
como em um último ato de crente,
fitou só mais uma última vez
aquele vasto véu azul
com a impressão de que ali
poderia morar gente


E à força responsável
por tão grande fantasia
sobraram palavras duras
de quem sempre anda às turras
com seu pobre coração:


“Suma logo da minha frente, seu divino traidor!
O poder que tanto clama
não merece o meu louvor!
pois se isso for verdade
e não te comove a minha idade,
o meu estado, a minha dor,
por que hás de merecer
mesmo um olhar meu, que for...?”


Em soluço engasgante
o seu choro assim cessou
e a foto dos meninos,
- que não largara aquele dia! -
todos juntos na abadia,
ao seu lado ele deixou


Pois lembrara de milagre
da fria noite anterior
quando já às duas horas
de um mal dia de trabalho
- suas finanças em frangalho! -
dez reais ele encontrou...


escondido em um arbusto
dentro de um sapato velho
que sem pensar ele calçara,
apesar do mal odor


Mas ao homem sem um teto
já bastou a alegria
de ter, como há muito não tinha,
o seu figurino completo


E deixou para os atos finais
o checar do seu bolso de trás
pra criar expectativa
acima das demais
por fortuna prometida
- era tudo realidade
ou tinha ontem a cabeça batida?


E ao toque no bolinho
de uma nota amassada
mostrou logo um outro lado
- com sorriso, mais sacana...


e num pulo pôs de pé
o seu corpo de faquir
pra gritar sua alegria:


"Aleluia, meu senhor!!!

Hoje tem porre de cana!
Hoje tem porre de cana!"

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma coisa de cada vez

Tire o olho de tão perto. Por acaso enxerga mal? Quando tua visão estiver débil, veja se não está muito fixada em um só lugar. Só uns passos para trás e já irá visualizar coisas que tu há pouco ignorava. Não é preciso estar vidrado para enxergar teu quadro. Solte os ombros, veja-o sem pretensão. Quando se passa mais tempo focando a visão em um só ponto de um todo mais rico, esnoba-se a essência, e tudo se transforma em só mais um meio, e não o próprio fim em si. Mesmo o foco escolhido, quando tirado do contexto, além de embaçar todo o resto, perde o seu original. Ele mesmo é uma engrenagem, não se trabalha em um sem mexer no sentido do outro. E o que procura tanto, afinal? Defeitos?! Quer um conforto? Tanto não é tão mal quanto pensas, quanto nem mal chega a ser. Longe disso. Iniba o teu pensar póstumo. Já tiveste muito tempo para refletir sobre a obra durante sua criação. Parta pra seguinte, se inaugure até esgotar as atrações. Quer o melhor? Nunca se esgota. De tédio não morre.

Sonhou com unanimidade? Esqueça. O que importa nas pessoas é o humor. Elas riem pelo que tu acha estúpido, se irritam no que tu mantém a calma. Expressam simpatia quando fala com seriedade. Explodem, te pegando de surpresa, por reprovações ao que tua mente está acostumada a pensar. Tem disposição para trabalhar de adivinho? E assumir uma vida onde calibra teus atos a cada nova relação? Ninguém tem a unanimidade que tu pensa. Pare de se fazer de bonzinho.

Dito isso, deixo aqui um manifesto. Não atropele as etapas, é só disso que precisa. A preocupação, já diz sua etimologia, é ignóbil, tola, infantil. Não presta. O nervoso da espera, de ansioso por resposta, não tem poder de mudança; apenas te enerva ainda mais, e sabes bem até onde isso pode ir! Ocupe tua cabeça apenas enquanto necessário. E, nesse tempo, se ocupe o quanto quiser. Indague, analise, rebata, negue. Sofra o máximo possível. E deixe que demore. Vista-se de juiz do seu domínio, saiba o que tu quer e o que tu pode! E das consequências dos atos possíveis. E dos atos, escolha o emancipado. E a partir daqui vem o meu conselho. Não se desespere. Tudo é jogo, uns negam, outros se vestem para isso. Mas todos jogam. As falhas são duas: tomar o altruísmo como fonte ininterrupta de inspiração e se desesperar quando o turno não é o seu. Faça o que tu queres e pare de se PREocupar! Não caia no erro de adiantar vinte respostas e seus vinte contra ataques, se só te chega uma. Espere a oficial. Deitado em uma rede, teu tempo é mais útil.

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Não venho com muito saco para a escrita esses dias. Mas não pelo que vou dizer.

Minha cabeça anda confusa. Mas uma confusão boa, de quem tem no que mexer e apenas está tonto com o número de opções. Isso me faz bem. De pouco em pouco incorporo ao meu pensar novas formas. Vou mudando a minha filosofia ao menor estalo de entendimento; e o bom é perceber que isso não acarreta deixar de lado o meu modelo. Pelo contrário. Sinto polir ele.

Não que nunca tenha acontecido, mas hoje (motivo a encontrar...) dou valor inédito à experiência e ao que leva a ela. Sempre me acompanhou a sensação de estar completo, pronto, fechado. Tem sido esse o motivo de parte da minha insegurança, sempre tão juvenil – palavras minhas. Ainda hoje me sinto conhecedor de todas as boas músicas, livros, situações, pessoas... ainda que... pff!... pareça uma idiotice atestada. E na verdade seria, se ao menos fosse uma sensação palpável, facilmente categorizada, dissecada. Mas está mais para uma plantação profunda, com um emaranhado de raízes entrelaçadas e robustas metros a fundo, e que na superfície só se enxerga um caule e olhe lá. Ela não é o fim do meu pensamento. É de onde ele parte, como núcleo do meu ser. Ou de onde partia.

Como gosto do arrepio de estar diante do novo!

O motivo da mudança ainda estou buscando. Nem importante deve ser. Mas hoje consigo e gosto de perceber que experiência não demanda tempo, mas sim comprometimento. E eu sou muito exigente.

Cuidado comigo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Quando estou sobre trilhos

Alô Alô, senhoras e senhores, desculpem a intromissão!
venho aqui para preencher
esse barulho de percussão
bate bate que tanto bate,
vem dos pés e não dissipa;
se equilibra na bandeja, se segura em qualquer vão!

Se minha venda ambulante
não consegues bendizer,
o que fazes cedo assim
entalado desse jeito?
do outro lado do prazer
sem ter mais o que fazer?
não pareces mais que eu
só estufas o teu peito

Já passei da minha fase
de olhar pro teu calçado
e pensar pura besteira
do que acha em teu tablado...

hoje só o que me importa
ao entrar por aquela porta
é que leve meu produto e não se mostre acanhado

Não vês tu que o desconforto também a mim acomete?
que maluco com arbítrio escolhe de lata andar?
caixa prata, sobre rodas, peso bruto que desliza
pouco entra alguma brisa
pouco dá vazão o ar
não confie no teu corpo
não te ponha a espirrar
- sem contar com a proteção,
feita pela tua mão -
calha de todo carioca
tu assim contaminar!

E por mim que tenhas pena,
é isso mesmo que quero
mas não pense todo mal,
mesmo eu de mim pouco espero
hoje o sonho que me ocupa
- vejam só que pouco alento! -
é a dar aos filhos que alimento
a alegria de crescer
...
comprando à vontade
o que sofro pra vender

Sei que gostam do meu show
eu lhes trago diversão;
e se tu achas que não
por que desvia a atenção?
Eu sei bem tudo o que queres
quando o espaço está menor
quando olhas pela janela
e já tem tudo de cór

queres só um diferente
-não que tenha algo em mente;
de viagem delinquente
está farto o teu pensar;
e a cada compromisso
te sentes logo um submisso
ao sistema de metais
que te põe pra lá e pra cá

é aí que entro eu
parecendo um fariseu
tatuagem camuflada,
clarinha, mal pintada,
misturada sem capricho
em meio aos tons marrons 
da minha pele desgastada
...
esperteza declarada
no sotaque repuxado
digno de um pé rapado
que sabe o pouco que tem
e usa-o como ninguém

E pode ver...
que na hora tu fraquejas!
não te quero enganar
ainda que de mim desfaças
sabes que sim...
te tenho na palmar
...
brinco com teus desejos
de trabalhar o paladar,
de levar aos teus amigos
esse brilho no olhar,
quando olhas bugiganga
que tu juras precisar
mas no fundo sabes bem
que só dura a sensação
enquanto os trocados teus
não descansam em minha mão

Por agora, meus senhores,
estou quase indo embora
falta pouco...
mais alguém?!
pelo menos uma esmola?
já me espera o outro trem
passem bem, até alguma outra hora

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sabe o que eu percebo?

Que tudo não passa de um grande desentendido. Não um tudo específico, de uma só situação. Nem um abrangente demais. Definiria bem limitando-o às relações humanas. Mas isso lá soa como limitação? Veja que não é coisa pouca. Meu tudo engloba o mais importante. Qual outro conjunto tem tamanha aptidão para o imprevisível? Os animais? Se tem, não sei, não cato. Parecem tão presos ao 'nascer, crescer, reproduzir e morrer'. O homem é mais sacana, tem sorriso torto, tem pretensão. Sabe do seu potencial para estar no controle. E se esse ainda não é completo, puro charme do tempo, que ainda não veio. Deixou de ser animal há muito, virou deus e sabe disso. Mas um temperamental, cheio de si. Gosta de impor sua opinião, e se satisfaz com o poder limitado - mas crescente - que possui. Não tem a resposta de onde veio, mas isso importa? Sabe que cresce, ótimo. Reproduz se quiser. E morre. Mas espera só mais um pouco, ah espera...!

Pobre dos animais. Eu aqui desfazendo de suas manhas. Não me entendam mal. Gosto deles, mas não estou falando aqui de beleza ou empatia, mas de capacidade. Já enrolei tanto que não sei se lembram, mas falo de desentendimentos. Vêem como pareço soberbo ao falar isso tudo? Não sou. Julgam-me pelas palavras que digito, mas não é pra menos. Pois se eu, com puro pensamento, já me digo soberbo e ponho em suas cabeças, leitores, como não me achar vulnerável por coisas palpáveis como meu texto? Eu mesmo releio o blog várias vezes e já não entendo tanto algumas frases. E, quando lembro, me sinto mais escancarado ainda à interpretações. Não escapo nem das minhas! Mas é só uma constatação, não um receio. O que posso fazer afinal? Parar de escrever? Tolice. Não sou apenas isso aqui, e muito menos é algo que se possa blindar. “Penso, logo julgo”. É inevitável, inconsciente, natural. Considerando estar certo - para servir de exemplo -, não pontuaste minha soberba em voz alta. O pensamento apenas acompanhou minhas linhas, sem controle, sem parcialidade real. Puro tempero humano.

Todo esse enfeite é porque hoje avaliarei meu blog. 
 
Ainda não sei como trato esse espaço. Sei que tudo que de mim sai é deliciosamente genuíno. Escrever aqui é como estar de frente para o espelho. Eu falo pra mim, olhando na minha cara! E esse rosto me acompanha por tanto tempo... fito bem fundo em seus olhos todas as manhãs. E me retribui com tanta simpatia! Estou tão ligado ao meu interior, passo tanto tempo comigo, que nada escrito aqui sai com esforço. Tenho tudo mastigado, saboreado, engolido, digerido. Estou apenas... vocês sabem!

Percebo um excesso de pessimismo. Para correção, afirmo ser sereno. Passo por uma fase turbulenta, mas me sinto bem estando ciente disso. E no centro do furacão, mas mantendo os olhos abertos. Gosto de ser esclarecido, não me escondo de temas, indagações. Não atribuo respostas incertas. Prefiro deixar perguntas de molho, trabalhar minha capacidade e voltar à elas.

E gosto de quando cantando escrevo. Passei um tempo pensando dessa maneira, como uma mania incontrolável. É gostoso, dá ondulação ao texto. Torna-o risonho, tira-lhe a seriedade e vai junto dela a pressão por perfeição. Aproximo-me mais da arte, da fluidez, da cultura popular, da boca do povo. O valor de vê-lo dançar em seus lábios, e ainda se deliciar imaginando a melodia que sai de outras bocas, de outras interpretações musicais. Cantarolarei bastante ainda.

Vejo algumas forçações de barra. Mas mesmo elas me fazem sorrir. Estão em meio a coisas incrivelmente belas, e tudo está dentro do planejado. Este blog é o que eu sempre soube que poderia fazer, com as devidas margens de erro. E cada post é um tapa na minha cara, dos que pegam em cheio, com minha própria mão. Sempre me prometi essa surra, as vezes me espanto por ela já ter começado. Como eu mudei com o gostinho da minha conquista! E estou ávido como nunca por continuidade, por conhecimento, por crescimento! Tomando gosto pela tentativa, já não me falta nada. Vejo que nunca faltou. Talvez apenas me ver em palavras e enxergar a beleza que sempre existiu por trás da minha matemática sensorial altamente subjetiva.

Cansei de escrever. Gosto dessa liberdade e vou fazer valer meu direito. Estou sim sendo visto. Muitos gostaram da minha empada. Tive mais de duzentas visualizações e sessenta visitantes únicos em quase duas semanas. Muito mais do que esperava. Podem continuar a análise pra mim nos comentários? Usem o anônimo e xinguem à vontade. Só sejam sinceros.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Philip GoGear


Adoro quando estás por perto, bela música! Deixe de lado esse charme de não ter mais energia. Sei que muito é culpa minha, não te plugo na tomada. Mas sabes da tua parcela, carregas capengando... somos tão bons amigos, por que me deixas na mão? Por já estar caidinho, sei bem. Grande pena. Não quero trocar-te, gosto tanto do seu jeito. Mas hoje estou agradecido pela sua companhia. Estive tão cabisbaixo, talvez por muito sono. Nem carona ao trem tive, sabes como odeio esses dias. Claro que sabes, tu de mim tudo compartilha.

E mesmo manco, me suportou. Que belo som veio emanando, como há muito não ouvia. Voltei aos primeiros dias. Lembra-se deles? Eras pura rebeldia, só sabias dar porrada. Adorava! Até hoje me pergunto se tão bem quanto antes ouço. Teu volume é muito alto e não consigo resistir. E tu também não ajuda, bem sei que gostas de me ver a cabeça balançar, te sentes orgulhoso, seu rapazinho genioso!

Sabe aquela vez que pela raiz do samba balancei? Ficastes louco, bem sei. Mas mesmo ali me compreendeu. E gostastes um pouco, admita. És do rock setentista, mas sempre soube aprender. Os preconceitos estão lá, como em todo outro campo, mas também gostas de quebrá-los. Sempre fostes bom martelo. Sambastes tu também.

Como gosto de te ver com aquele sorriso de canto de boca, me dizendo “acertou”! Basta um baixo rechonchudo, dos que orquestram todo o resto, que domina o ambiente e a ele dá volume. E guitarra com carisma, não te importa de que tipo. Gostas das que escarram no chão, declamando rouquidão, e das que os olhos marejam e esfriam a barriga, custando a acreditar que coisa tão sublime exista.

E o batuque swingado de uma boa bateria, e um solo de teclado que te traga nostalgia, e um canto interpretado - não forçado. Pura maestria. Gostas das coisas simples, das complexas, gostas de técnica, de tosqueira, de peso e dos sons que só se ouve depois da décima vez. De letras que falam da tua vida, da que tu queria, ou das que contam fantasia. E de mergulhar de cabeça, se teletransportar, mas também gostas de nem perceber o que ouves.

Gostas de música. E eu gosto de ti.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Aonde pensa que vai?!

Antes que se deixe levar pelas maravilhas desse mundo, meus caros, deixe de lado as do outro. Queres fantasia maior do que tens ao acordar? Tua vida não faz mais que pouco, não és tão importante assim. Achas ruim? Acho lindo.

Gosto de ter vislumbre infinito, e assim vou levando minha leviana existência. Pensas ser um texto depreciativo? Certifico que não. Pouco me conheces. São apenas cinco textos bobos. Seis ao todo. E, se não por eles, mas por comigo estar alguns poucos, ainda assim não fazes ideia. Não por ser misterioso. Mas de ti também não faço. Onde arrumaria lugar para crescer se do tamanho do mundo me achasse? E quantos desse tamanho não se acham e, com tanto, falta espaço?

E lhe pergunto qual a graça desse mundo se teimamos em achar que de verdades somos feitos? Não te ponha em patamar de igualar tua breve vida ao grande baile de pedregulhos cósmicos. De infinito apelidado, o universo é, por si só, a constatação da nossa mediocridade.

E vejam como minha vida é toda bela, nunca foi menos que isso! É meu ser franzino, largado num canto qualquer desse habitat fantástico, que me encanta e me faz cantar. E o quanto mais indago e aprofundo o olhar, menos enxergo o fim dessa imponente imensidão. E não há como evitar, do cume da minha ignorância, desejar parcela mínima de imensurável sabedoria. Declaro aqui meu amor; não à vida, mas ao que não conheço dela.

Mas antes que eu encerre, disse bela, não fácil. Achas que sei lidar com isso? Não ter o ego grande é minha segunda grande falha. A primeira é considerá-la uma. Mas não me agrada a verdade instaurada. Far-se-ia um livro; e pra que então seria a vida?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ruminando...


Sou exímio conselheiro. Não é raro me assustar com a profundidade do que digo; por vezes coisas tão claras e generosas que pergunto como ainda me deixo levar pelas muitas indagações a que eu – justo eu (!) - estou exposto.

Me intriga a divergência entre o deleite ao dissecar o desconforto do outro - sempre tão ingênuo e de solução branda - e o frenesi consequente – e inconsequente - das minhas próprias aflições, acompanhadas de vistosos ornamentos que entopem de importância os meus fatos. E mesmo com o cuidado de procurar indícios parecidos no depoimento alheio, ainda assim não me vira um grande obstáculo. Com algumas breves contextualizações, encontro caminhos para a sonhada tranquilidade paliativa do camarada ao lado. Quanta bondade!

Mas ora... isso é pura contradição! De nada adianta análise meticulosa se o que importa ao panorama é o calor que toma nosso ser. Fervor vigoroso, que ofusca a razão, embriaga os sentidos, enjaula as ações. Acoados pela garoa, por receio de enchente! Como vejo bem com meus olhos embaçados! Julgo que seja da idade, noto esse padrão. Imagino que em pouco tempo entenderei melhor sobre variação de sentimentos e ocasionalidades, entrando em um estado menos controlado, talvez um piloto semi automático. Tanto entendo que tenho carinho pelo tempo que vivo hoje. Me enxergo com a nostalgia de alguém que atravessa uma fase tão estúpida quanto essencial. Puro aprendizado. Aguardo ansioso o momento em que me apodero do leve manejo de todo esse turbilhão.

Lembra-se do tempo
em que perdíamos tempo
procurando sentido?
mastigando o que era
pra ser engolido?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Bolero meu

E por hoje falarei,
ainda que incompleto,
dos loucos mundos que embarquei

Só não caiam no meu erro
do saber demais
e, por desespero,
agir conforme o que já sei

Pois de nada adianta
adiantar o que não veio
e por puro devaneio
vangloriar-se um grande rei

Se de ordens tu não vive,
e apenas serás homem livre
ao abolir de tuas veias
cada breve covardia
que te apossa ao meio dia

E dos sonhos na cabeça
não se deixe enganar
tu nada terás de nobreza
até saíres do lugar

Pois moeda sem valor,
se chamada assim for,
é nada menos que aquela
que, por pura balela,
não se põe a circular

E antes que tudo seja
aquilo que tu deseja,
aprenda a adorar-te

Ergue a testa, olha em frente
enxerga o teu inerente
pois ainda que o normal,
com aparência de vital,
seja o vislumbrar externo

De nada adianta
se com olhar de anta
olhas para o interno

segunda-feira, 11 de abril de 2011

about butterflies in stomachs


O que é o amor?

Espera, esquece, pergunta difícil; respondam-me apenas se é bom... Pois é o que dizem, mas não é o que sinto. E é o que sinto?

Duro sentir o amor como fardo. Não por definição minha, mas de todo o resto. Pois se amamos os seres e seus instintos, as cores e os reflexos, a maciez de um timbre e o arrepio dos pelos do braço - que maravilha! És um agraciado! Gozas de plena sensibilidade emocional e sensorial, louvado seja!

Só fique longe de mim, você e suas tendências à fragilidade!

Ora bolas! Não te precipite! Não te peço que ames de volta. É o que quero, tolice esconder. Mas sou humano, não credite apenas a mim tal necessidade. Só não aja como se eu o implorasse! Onde mais se acha um querer bem sem nada em troca como esse? Aprenda a desestabilizar meu senso de orientação: trate-me como enfermo, sinta pena de mim. Tenha consciência de que eu adoro a tua presença e o teu toque, mas olhe-me com indiferença. As ideias se confundem, volto à condição de novato. Me privo do direito de cultivar o sonhar profundo, castro meus impulsos. E só restam as ruínas do que nem veio a existir. E não falo das definições de rótulos, idealizadas. Mas em destrancar essa sensação pulsante que me entope a garganta e arranha as entranhas. Me deixando louco de vontade de tudo, e ao mesmo tempo limitando o meu ser ao que o outro permite, já que de nada vale um punhado de sentimentos e uma pessoa só. Isso já se vive o tempo todo, to meio cansado.

Mas, antes de tudo, não pense que estou apaixonado. Eu sou apaixonado! Vez ou outra, de fato, isso me leva à paixão. Do modelo clássico, dissecado por pensadores, matéria-prima das obras literárias. E não me toco, repito, caio de novo na própria armadilha. A de achar que todos tem a minha condição de jogo. De deixar tudo florescer sem medo, ainda que seja comedido nas palavras. E só eu fico sabendo de tudo. Sofrendo por altruísmo, na esperança de que a resposta venha naturalmente, como em mim.

Ademais, sou paciente.