sexta-feira, 14 de outubro de 2011

3h

Não lembrava da ultima vez que levara consigo um coração tão acelerado. Esse alerta súbito ocorreu por falha em seu planejamento - deveria ter partido há mais tempo, e agora a rua estava deserta.
Ainda andava de bicicleta - fato que considerava potencializar o perigo. Indo (vagaroso) pelos cantos, talvez pudesse se passar por vulto; mas assim devia andar no campo da pista, no alvo da rua, jogado ao perigo. E mesmo escolhendo agora as calçadas, ainda era ligeiro e grande - e quem não nota uma máquina e um homem, cortando carros e árvores? Preferia logo andar rápido pelo asfalto (frio, mas indolor) para usar ao menos a única vantagem que via em seu transporte.

Em seu itinerário de emergência improvisado havia contado com a rua da igreja. Já passara ali outras vezes, mas nunca fora tamanho obstáculo. Não bastando (em rotina) aquela subida gelar suas pernas, ainda tinha, especialmente naquele dia, uma lesão que até então só o havia incomodado - mas agora gritava por socorro. E ficava especialmente aterrorizado só de pensar em perder velocidade: não só devia, como queria chegar em casa...

E era incrédulo esse rapaz, pois tão logo lhe veio um mau pressentimento, já se pôs a dispersá-lo. Queria apenas chegar lá, os motivos eram óbvios: já há quanto tempo estava acordado? e o pique do que já tinha andado? Ainda não foi dito, mas vinha de muito longe e já estava exausto, seus olhos colados, também sua camisa, e só pensava na chave, na cama, no pouco que tinha na geladeira; em coisas de sua bela fortaleza.

E agora ao menos virava em uma descida. E já não era tão perigoso - a parte próxima de sua casa era tranquila por ser vazia, e não deserta por ser espreita. Decidiu fazer como faz quando está claro e inclinou-se para trás, manteve o guidão em mãos (ela tinha as rodas tortas, não podia soltá-la de vez nunca!) e fechou os olhos. Era tarde e não havia carros, e assim deixou que três quebra-molas passassem, no escuro, e depois reabriu para fazer a curva - pois aí seria demais!

E ficou pra trás a última rua quando, virando já na sua, avistou um caminhão de lixo parado próximo de sua porta. Pensou ser óbvia coincidência, mas logo em seguida percebeu ser um flagrante: não estavam de passagem, mas tinham todos descido do carro e ido à porta; batiam palmas e gritavam seu nome!

Como em um pesadelo, ficou tomado por arrepio trazido de uma súbita verdade irracional. Irracional por ter lhe esbugalhado os olhos e tirado o bom senso. Mas tudo fazia sentido para que não entendesse em nada a situação, e que notasse fazer parte de um inexplicável tão complexo que tinha medo de sequer estar ali.

Este é um esboço de um conto. Não espere que as coisas sejam paridas. Mas também não sei onde isso vai dar, ou se é isso apenas, e só.

3 comentários:

  1. Embarquei. Se tivesse mais eu fazia uma pipoca.

    ResponderExcluir
  2. Me envolvi muito!!!!! Queria um final =/... VOCÊ É BOM NISSO!

    ResponderExcluir
  3. Embarcados e envolvidos?!
    ahhh, vou pensar na sequência...

    ResponderExcluir