quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O banho

"O Banho", Alfred Stevens (1867)

Na já minguante exposição impressionista,
em um panfleto que exaltava a fina arte,
sorri com linhas de exagero interpretado,
que viam guias de expressão em toda parte!

O mensageiro, tradutor por natureza,
arrebatado por seu jeito iluminado,
dizia ter se lambuzado na beleza
de um toque de intenção
- emancipado pela mão -
que irradiava pelo quadro.

Segundo ele, por aquelas pinceladas,
que, pelo estilo, já são meio desfocadas,
girava o curso de um relógio conotado,
que do eixo conduzia
tudo mais que ali havia
de valor acentuado.

Num bom exemplo, às 12 e 15 havia a bela
- em pose amável, tão formosa que era ela!

Com mais minutos, baila o livro esvoaçante...

- Teve ele a graciosa como par introvertido...?

 Pois nesse tempo em que o segundo é diluído,
flor sedosa escapula
no instante em que o ponteiro
cede ao quadro algum ruído.

E assim determinou esse delírio literário,
reputando o itinerário que a arte estipula.

Com o fim da vida junto foge o argumento,
e eu lamento, ó bom pintor!,
por quem te troça e manipula.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Rascunho qualquer

"Como em uma auto-maldição, cada promessa o detém. E se contorce por poder cumpri-las... mas que não o faça!"


Vejam, como um exemplo, restos de um 'futuro' do tal conto mentiroso:

"Mais das 3h

(...)

E dessa vez gritou... grito alto e demorado! E durante isso, pensou que "pronto!! Se houver algum ladrão, que os vizinhos já se mexam; e se for um fantasma, que se assuste também!".
Não era dos mais medrosos... mas ele mesmo desculpou-se pela febre que subia... "tinha esse direito!!". Pensava agora no sonho confuso que teve, e no som dos trotes do vidro - tão altos - estourando em seu quarto tão calmo... pra depois encontrar ainda essa casa erma, talhada no frio!... o fazendo pensar como aquilo pôde ter sido um refúgio qualquer vez..."

Não nego que há um quê de bom. Mas onde estou eu
Eu que aqui sou, bem antes que potente e ciente, onipresente...!
E que me incomodo ao falar dos outros... - ainda que não saiba se o faça aspirando a um abrigo ou por puro desdém...!


Bem... um ou outro me aquietam para futuro: 
Se compadeço, vou de encontro ao que dizem; sou aceito, festejado... 
Do contrário, se "padeço" na individualidade, se recebo as minhas próprias honras, demoro a crescer e a andar, mas não me vicio em muletas.


- texto incompleto, mas quero postar qualquer coisa.

domingo, 17 de junho de 2012

Solturas

É lógico que eu não sigo (ou sinto, ou penso) à risca o que falo aqui. Mas o exagero é próprio de todos nós, e serve ao menos para que eu me entenda - se não pelas intensidades, sim pelos formatos e tendências...
-
Mas será que poderei contribuir com algo duradouro?
Até agora apenas discursei ao som do vago; e, embora isso geralmente dê a impressão de benção ou virtude, está mais para um enfado - uma inconveniente mania de manter sempre os mesmos meios por já estar especializado; mas eu me especializei no abstrato, no vasto e no relativo.
Isto é possível?
-
Vocês não conhecem o meu olhar para fora... mas, enquanto ele não estiver aplicado e eu não puder manipular, isso não me é uma vantagem.
E o que falta então?
-
Talvez preveja para um futuro muito à frente; para após um tempo de lentíssimo - mas almejado - empenho, onde puderam ser aprimoradas a distinção e a independência até os seus fins realmente ideais - tudo isso em cada uma das peças dessa imensa engrenagem social. 
Será quando os olhares e sons ambientes deixarão de ser importantes.
-
Mas não é fácil desgarrar-se das manias e das famílias...

Para os dias sem paciência: pular para 3:30.

sábado, 16 de junho de 2012

Síndrome de Robin Hood

Vamos ver o que ainda posso fazer... pois esse tempo fora de casa me trouxe alguma doença de estrangeiro, e eu nem sei se escrevo mais...
- mas isso sempre foi desculpa. E, portanto, estou aqui...

Eu que sou abrigo de um verme que consome a minha mais útil forma de exclusão: a que se aplica quando, de fato, estou só. Ele me contamina com o pleno senso de simplicidade no entendimento da existência do ridículo, do injusto, até mesmo do feio, e se pratica bem junto ao meu instinto - acabando por imunizá-lo contra toda a forma de indignação.

Em suma, ao entender que tudo veio a ser (em negação ao aclamado "É"), não para de mudar, e, em absoluta maioria, por cursos e motivos distantes do alcance de qualquer influência, a indignação (enquanto hábito) e o rancor me parecem atitudes bem baratas...

Mas apesar de ver nisso uma evolução, um sinal verde ao aprendizado, parece que o preço sou eu. E a própria analogia do verme já compreende essa imagem: com ele engordando a base de goles nos fluidos e essências vitais do meu corpo.

E tudo isso é traduzido em uma inexpurgável fraqueza de opinião, que me leva a querer decidir sempre como um político bom, em respeito a um tipo de fardo que me impele a virar mesmo um - e com isso a confundir o senso comum com o próprio, e a nem me consultar sem antes ter consultado alguém (ou seja, estar contaminado).

Esse é o lar perfeito de toda a compaixão doentia e remorso qualquer, embora eu não seja tanto assim...
- mas porque ainda luto!, imagino o quão mais fechado eu seria se não...

Pois a todo momento estou aí, posto à prova;
e se eu não estivesse sempre em guarda contra esse bicho da sedução (por estar seduzido!), contra essa síndrome do Robin Hood!, ficaria sem dinheiro...
(pois ele ainda é ladrão - e nem isso eu sou).

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Libertação

Se vêm procurando continuação de algum texto, não acho ser boa hora - das outras não sei, mas agora não é.

Não sou inventor de nada; apenas constato - mas acho que sirvo pra mim, e só. Esta é a minha conferência, meu espelho de estimação, o eu interno... que nunca conhecerão de fato! E, até por isso, ando com saudades...

Mas mil perdões pelas mil promessas de continuações. Nem sei por que insisto em palavras levianas e tão pouco atadas à mim... - E então pareço mesmo um tanto como aqueles, quando ainda mais jovens que eu: estimando valores pela régua dos outros.

Tenho essa cisma de adequação... pois os bons escritores: inventam! ou não?

Bem, não sou de historinhas, e para tanto devo ser ruim... mas sou assim... pertencente aos movimentos e reações; às sinas e choros - mas não aos motivos!

Saibam que tentarei. Tentarei agir conforme... conforme..... conforme, apenas!

E hoje é mesmo bem curto, pois essa postagem é de libertação!
Libertação das amarras da cobrança!
(Não! não de vós...! minha!)

Liberto-me de mim mesmo!

E voltarei agora à normalidade. Tenho textos entupidos, abram espaço!
 (!, e como lidar com mais essa?)

Tentarei.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Mais das 3h

Acordou pela noite emanando suor agressivo; e logo espalhou pelo leito uma umidez repelente - morrinha que o fez rolar pela cama por um quarto de hora - e já não podia ficar relaxado.

Passada a inquietude, decidiu pela utilidade, e um banho pareceu boa ideia. Mas no primeiro solavanco, arremessou o copo e o resto d'agua que bebera ao deitar, fazendo dançar mil brilhinhos trepidantes pelo chão - uma bela exibição trágica, como faziam no teatro grego.

E da impotência que sentiu, até esperou que os cacos terminassem de se enfiar pelos cantos, antes de exaurir sua raiva contida - o que era boa parte do ódio: a culpa clara, idiota e irrevogável, mais o silêncio abafado da noite; e assim, sobrou engolir um digníssimo berro, que voltou para dentro, como o desgosto de uma gofada azeda.

Bastou-lhe então o próprio afago. E lamentos mais tarde, esboçou os passos macios que o levariam à porta. De um copo tão longo, ficou surpreso por escapar ileso. E na primeira calmaria, insinuou pensamentos que o levassem a deixar a limpeza para depois, mas envergonhou-se de todos; e já virando para buscar um bom esfregão que tinha, notou uma luz diferente vinda do quarto de seu velho pai.

Julgou como fruto da primeira impressão, em meio ao breu e ao sono, uma coloração amarelada, agressora da embriaguez de seus olhos. Mas sua aproximação tornou claro aquele brilho distinto, que induzia um tom de mal gosto agressivo, quase libidinoso, dando ao quarto mal hálito e aspectos de sujeira e porre. Esteve aflito por um tempo, imergido em hipnose vaga, das que afastam as respostas.

E ninguém dormia por lá - àquela hora?... bem às três da madrugada, rotineiro como era, o homem deveria estar ali, ou ter alertado qualquer ausência! E então sobreveio o nó de um anseio encoberto, como um grito que se ouve longe, e pela distância ser tal, não se move para ajudar.

Mas em um estalo, talvez pelo despertar completo, o engasgo que precede um choro entalou na garganta, e precisou de vez de uma companhia qualquer, para dividir logo tudo, para dividir-se... - das mágoas do copo, dos tormentos da luz, da falta do pai.

Contava com o irmão, que dormia ao lado; e ao menos sentia um esboço de ar escapando pela soleira da porta. Mas ao abri-la, furtou-se de toda a serenidade e foi tomado pelo terror de um vazio completo: não havia ar, não havia irmão... não havia mobília, e quase pendeu para o lado ao notar que não havia nem tintura nas paredes.

Em três passos de retirada, estufado de um novo grito guardado, bateu a porta e olhou em volta. Ofegava a narina como um touro, suava de respingar o assoalho. Checou as costas do sofá, atrás de todas as portas, embaixo de todas as camas; correu pela casa em busca de algo que lhe desse o susto completo, pois aqueles sinais espaçados eram demais para uma mente sugerida. E ao voltar à cozinha, em um dos giros de corpo da ronda nervosa que fez pela casa, quebrou mais um copo - e esse estremeceu também o fundo de sua alma.

(Continua)

terça-feira, 17 de abril de 2012

Interagindo

Referente ao comentário na minha última postagem:
"A última edição da revista Discutindo Literatura trouxe uma pequena matéria sobre o título. “Por que Nietzsche está na moda?” e chega à conclusão de que, por ele ser um dos filósofos mais fáceis de ler e dado que a sociedade moderna exige rapidez, ele é perfeito para qualquer rebelde sem causa. O que você acha?"
Anônimo, apenas com algum esforço minha imaginação concebe uma rebeldia 'sem causa'. Vindo de uma publicação literária, seria como, em paralelo, se dissesse que a própria arte de escrever apenas para si (para agradar-se) nasce da vagabundice, e não da crítica.

Sempre tem causa.
E tendo, daí a ser ou não estúpida... (como insinuado pela revista) - a que isso me diz respeito? ou à Nietzsche?

(Respire para as interrogações:)
E ora!... não é sabido que temos todos uma ampla propensão a conceitos e atitudes vulgares até que se apanhe o suficiente, antes de perdermos o gosto pelo ridículo?... Chego a deleitar-me com as tolices dos meu dias... pois, do contrário, como poderia valorizar o crescimento? Ou melhor: haveria crescimento? E essa rebeldia vazia não é a tal - como chamam...? - fase?! ou também: confusão? e a própria dúvida?... e há algum mal no barro, antes que receba a mão que dá o molde? Ou ainda: por que deveriamos distinguir o que em muito nos une?...

No mais, não é a causa de um livro se preocupar com as causas alheias... pois não é ele, por definição, a sua própria? - ainda que às vezes um retalho, não é sempre um novo produto? Que bom que os rebeldes 'descausados' estão à procura de uma, não?...

Mas (não vá se confundir!) é sim muito bom que se fale de ideais para falar de Nietzsche, (e atenção ao paradoxo que indica a fraqueza da afirmação da revista:) pois é deles que ele trata - trata de torturar!; de brincar, como uma criança e uma bola de aniversário: pega, explora, enfia a unha e explode! - e é a parte que mais lhe agrada.

Pois então, que chame de "sem causa", "causa ruim" ou qualquer coisa. O que for flácido, hipócrita, mal cheiroso ou idolátrico (nomearei de "causas fracas", para comparação) cairá de joelhos e será empunhalado com pompas, com todo o merecimento que ele encorpa ao seu ritual.

Não vejo mal nos pobres coitados.
Mas rebeldes sem causa - voltemos ao termo - não sobreviveriam.
__

Anônimo, não esconderei que, certamente, ainda não respondi bem à sua pergunta. Sei que não quer saber das cascas, e sim das polpas. Isso virá. É que acabo me perdendo nos floreios perfumados e postergo as respostas completas; não é meu dom ser objetivo. Mas também não estou com pressa. Tenho muito a falar sobre o assunto, mas não agora. Vim só movimentar o ambiente e mostrar o quanto valorizo as nossas interações (falo de todos os que comentam, seu orgulhoso!).
E, por enquanto, caio de sono e me retiro, não me entenda mal. Abraços.

terça-feira, 27 de março de 2012

Friedrich

... mas com nietzsche veio a revolução! Sua prosa é um organismo próprio, como tendo pernas, voz, e fosse livre! Cada argumento é um fio manuseado com tanta maestria que em duas ou três linhas ele pode tecer teias inteiras, e mal dá tempo de percebê-las antes que já tenham grudado na pele - e então, permaneçam um dia inteiro a perturbar... Mas nem toda perturbação é de motivo ruim, tal como o agito nem sempre é em gozo...

É normal que eu me pegue sem ler o livro... com ele mãos. Não por indiferença (mal acho que isso seja possível!). Mas pela sutileza ao precisar de tão pouco para abater, em algumas palavras, uma vida inteira de crenças - e tão variadas... e continuamente... fazendo sentir necessidade de tomar algum ar para me reorganizar. E então pareço mesmo um leitor distraído... - meio combalido... mas sempre superado; um mesmo vicente, mas com algo novo. Ou algo a menos! - talvez juventude, gosto pra esmola, conformidade... dependência...

Se eu o indico? não! não me façam isso...!
Entendo por indicação o que espera-se cair no bom gosto do outro... mas é custoso acreditar que alguém se interesse por ele ao mesmo ponto que eu, por exemplo - ou a qualquer ponto, na verdade. Minha empatia carrega uma vasta história por trás; improvável que a trama se repita, pelo menos por tão perto...

Pois é leitura pesada, em todos os sentidos. Não cheguei a ter tantos livros assim, mas nem há necessidade de comparação: encará-lo implica estudo e exige estomâgo!

Do estudo, já foi dito - e nisso incluo todos: o mais compreensível é que o interesse cavalgue sereno à frente... - como um alívio do esforço, que, puxado, só acompanha. Não há um pingo de aflição em terminar o livro, capítulo... parágrafo! Não é raro, com algumas frases, bater cotas de leitura... não há pressa!

E além do mais, tenho muito estomâgo!...
...pois o gosto por ignorar... Ah! Isso sim é vender a alma ao diabo! - para ter de presente um organismo preguiçoso e lento... é o que ele almeja: poder agora resistir à vida com os mais simplórios alimentos d'alma... para que vegete, se tiver a maior sorte!

Mas eu? Eu não sei bem se me gabo ou lamento ser devoto, mas continuo a gostar de tomar uns tabefes literários bem dados...

domingo, 25 de março de 2012

Crítica à autocrítica

Diversas questões me levam a estar aqui agora. E lembro bem, já na primeira postagem - ainda com um cambaleio que hoje me envergonha um pouquinho - dizia ser de questões tudo isso aqui feito.

Questões como a própria vergonha e o desamparo, o alerta do medo, a tristeza e a solidão... - desde o princípio são pautas minhas, tanto que as poucas críticas que recebo (dos também poucos que me dedicam atenção, e não só olhos) são relacionadas a um peso excedente nas costas, uma melancolia presente no corpo completo, o que certamente me torna mesmo um tanto aborrecido...

Mas eu nunca liguei para isso. Vejam que escrevi mais e da mesma maneira outras vezes - e não pensem que não sei bem o que eu sou ou pareço: tudo o que sai daqui é devidamente estudado, pois o próprio ato de escrever é um estudo de si mesmo. E há como, portanto, não respingar textos com um pouco de água podre?

Deveria até sujar mais, imagino...
Não que eu seja fétido - pois o que chamo de malcheiroso é apenas meu ser conflitante: essa pluralidade de pontos de vista vinda do saber e pensar demasiado...!
Mas isso não é estar no início de um rumo para a loucura?!...

Pois bem. Hoje, mais uma vez, tiro (ou tento) um tempo para estar aqui em comum acordo - essa é a regra para escrever: tantas vezes duvido de mim, tantas outras me culpo ou mastigo remorsos, que venho quando preciso de bons desabafos - então sento e barganho o quanto disponho de sinceridade por hoje... (e qualquer coisa do que sou já me satisfaz...)

Mas quem olha de longe e me vê calado não suspeita que eu também assim seja para mim... não sou um cara fácil... são poucas as vezes que estou de prontidão (mesmo comigo, mas não apenas...) - meus amigos já percebem, meus pais sentem, e por que eu não saberia?! - Logo eu!... uma bela máquina de picotar, separar, refogar, salgar e consumir (Tudo de mim)! Não é surpresa que eu tenha indigestões: quanto tempero e quentura!... quanta pressa e desejo torto!... quanta comida!!

Resumindo: eu sou um incomodo próprio!
Um auto-divergente e amador das discrepâncias... um astuto crítico de mim mesmo

E desta vez em pergunta: logo eu?!...
Pois que saiba dos sulcos no meu peito e dos rastros na memória... ou do cheiro do meu caráter - em suma - dos desejos aninhados às ambições megalômanas (... que saiba de mim!), é natural...

Mas continuar estocando insensatez, e dando ouvido amigo à histeria das minhas próprias risadas?
... pra que esse desdém?
E eu, onde fico?

sábado, 17 de março de 2012

Chega de rimas

Na boca, a sujeira no canto já tira o encanto.
Então pra que tanto prestígio,
se faltou vestígio
de quem se importa com uma cara torta??

Chega de rimas.
Sempre acho que elas consomem
o que cheira mal.

Pois notam que é um tanto infantil
esse ardil de querer
mais de mil sons engomados,
lacrados de forma a execrar o normal?!
[respira]

Devaneio não é coisa legal.
...
O sonho acordado é um tanto
igual ao dormindo:
Com a expressão vulnerável
de um belo idiota
sorrindo...

Mas dormir faz bem para o espírito
- reclama...
Ora, é claro! Ele ama
um soninho molenga,
que acolhe e carrega
pra todo lado;
sem aquela cobrança
que emprega 
em querer (ou ao) estar
acordado...

E não basta imergir pelo ego
e, do orgulho cego, achar
que o que sai da cabeça
tem no peito um bom lar. 

Ainda que às vezes seja,
é sempre abundante
de arrojos largados,
boiando no mar.

E por isso, que a porta
fique sempre encostada:
só escuro conforta uma alma calada.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A porta conveniente

Com esforço seguravam os olhares.
Deviam só ao protocolo; do contrário, haveria ele de derrubá-la ali mesmo, naquela mesa, com as próprias pessoas em volta, para que admirassem o vigor de seus corpos pulsantes, embanhados num mel de volúpia e suor.

E mal resolveu reservar sua loucura, surgiram-lhe outras. Pois notou a formosa bem perto de si... arrastando-se um pouco... deixando carícias...
- para tomar seu juízo!

E num arrepio, pegou-a na mão bem de leve e por pouco não escapa. Olhou firme e sem palavras - como pedem os bons momentos.

Fez tão bem que tomou um sorriso sincero e quase agarrou todo o resto. Mas ela soltou-se, arrastando suave suas mãos pela dele, pra atingi-lo tão fundo que entendeu a resposta sem nem a pergunta.

Mas que a deixasse mesmo ir agora...
Suspeitou que devessem esperar dissipar essa nuvem de olhares, ou que de última hora saíssem mais cedo por certa urgência inesperada... e sincronizada... -  e por sorte no mesmo horário, vejam vocês!...

Mas eis a surpresa, foi quando a princesa manteve os olhos nos seus em todo o trajeto de volta, parou no degrau de uma porta, por mais de um minuto o mordeu à distância e entrou. E ele, já tão sem juízo, deixou-se imergir nessa fome voraz e foi atrás.

Subiu uns três lances atrás da ligeira, e chegou ofegante a um quarto completo. Uma cama bem grande e vistosa, cortinas bailando ao vento... perfumes variados por todos os lados, com velas acesas e a bela ao centro.

Estava deitada de lado - com as curvas que deixam-no louco - com o braço apoiando a cabeça e o sorriso de agora a pouco. Esperou o transe do rapaz, cujo o sonho deixou amarrado. E o encanto só foi afastado quando ela chegou mais pra trás, estendendo e abrindo seu corpo... e aí não aguentou...

Em um pulo ele já estava em seu rosto, num beijo tão forte que tirou-lhe um gemido. Um leve pudor a censurou um instante, e virou-se pro lado com vergonha da entrega. Mas o rapaz era entendido, e a fez um carinho com a boca, beijando aos poucos seus cantos do rosto, e a sentiu derreter-se de volta ao seu colo.

E baixinho jurou umas coisas bonitas, carinhoso prelúdio pra outras, sacanas... Esgotando as palavras, perdurou no ouvido, desta vez com mil línguas por todos os lados...
E agora já estavam suados, imergidos num fogo soberbo lambido de dentro pra fora, enquentando até dentro do útero... com esplendor que excita e vigora!

...
A quentura do aperto dos corpos culminou em um êxtase intenso
...

Secaram expostos ao tempo,
vestiram as peças tiradas,
desceram pulando as escadas;

e atraídos pelo bom proveito
do frescor que um vento empresta,
agora com cheiro de amor, voltaram à festa.

sábado, 10 de março de 2012

Justificando-se

é papo de um louco 'com razão', que

"É nos assuntos 'sérios' que não só sumo, como agradeço por isso.
Meus olhos miram a involuntária tendência alheia ao ridículo, já que não é tema que define seriedade, porém respeito, o que nunca há.

E não falo desse respeito chulo, de tons de voz e sujeição engasgada.
O desacato que me incomoda é o pouco apego ao todo, o desprendimento conformado frente à visão elevada, aberta, hospitaleira. Sem ela, destacam e alastram o que querem, entortando o papo com o próprio papo, em um maquineísmo feio que divide o mundo entre o bem e o mau, sem dar brecha para que se misturem em sequer uma pontinha!

E me sinto encoberto e sufocado com minha fala, pois me transformam nela própria. À mim, isso sim é ser um vulto.

O ideal seria um mundo emancipado de ideais, para que surjam enfim as pessoas!
Meu silêncio é apenas valorização da minha própria, pois me cansa defender o hipotético - a fantasia de poder depender do outro.

Meu exemplo de que a injustiça é espreita, é que tudo o que disse conflita com outros conceitos que também me habitam; e impedem, por exemplo, de que eu ache natural engolir sapos ou não defender os meus próprios.

Para mim, a noção de contradição e o costume de sua vivência é a parte mais natural de um ser justo, pois afasta a pirraça que luta pelo todo encaixado a partir dos discursos, e abre espaço para que olhemos uns nos olhos dos outros pela primeira vez, enfim."

quarta-feira, 7 de março de 2012

Por algum motivo,

em um só pulo levantei da minha cama, em só três passos retirei-me do quarto, e mais um pouco e estou aqui.
E por que me atreveria a rebobinar esse forte repentino?

É certo que estar na cama não tem por pressuposto um belo sono;
e não mesmo, era o caso.
Havia nela algum ar de prisão. Prisão 'contemporânea', julgo eu. Tempos atrás, e poderíamos dormir à nossa hora, para acordar se necessário, e responder à... (?) ...ou não responder. Ou nada disso.         
Estou com sono, percebem?

Ó, grande mal incoerente! Era a terceira vez deitado, vindo de três bateções de cabeça sentado. E o mesmo em todos: repousa o corpo, excita a mente. Levanta e senta, e, de repente... tudo de novo!

Acho que foi daí! Calhou que cansei de gastar mal meus intervalos de cama, e de uma ideia veio o assunto inicial (de levantar, correr, ligar, daí estar aqui, etc e tal...).

Pobre blog, já bem sabe que só teclo no chicote. Olho pra ele, que olha de volta... que faça!
pois os dois parecemos os mesmos: enquanto nada temos, à desgraça pertencemos. Mas quando, como agora estamos, nem sentimos o fluir, já nos pomos a sorrir. Vê?

Mas pobre mesmo de quem sabe tudo da vida logo deitado em uma cama gostosa! Nem se pode aproveitar enquanto ela está geladinha...
No que pisca o olho, já está tudo quente e áspero, misturado e meio sujo!

O melhor para dormir é a ignorância. Ai, que gostosa! Lembro como se fosse ontem (e foi), quando deitei como um babão analfabeto, que se importou apenas em descobrir seus pés, pois não há nada como bons pés frescos pelo vento...

E daí hoje (ai, hoje!...) virei astrônomo, filósofo, economista. Empreendi mil vendinhas imaginárias (algumas delas, tenho até que anotar...) e passeei por alguns cantos da saudade.

Como penso! Co-mo pen-so!
Me dá um refresco, eu mesmo!
---

Mas levantar foi uma ótima escolha.
Um pouco controversa, já que vinha estranhando a felicidade, e fugi meio contente, ainda que só por um pouco.
Mas foi só o vislumbre de tudo o que precisava: um desabafinho de mim mesmo.

Os motivos, afinal, não foram ditos.

Mas qualquer verdade escrita, mesmo a insônia, já me fará dormir um pouco em paz.

Boa noite!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Como lidar com humanos?

Primeiramente, não levando-os a sério.

Todos carregam consigo um rastro de intenções das quais saberemos pouco - e se formos espertos!
E mesmo essa esperteza é muito crua, no que toca o alheio "compromisso com a intuição": que varia tanto (em cada um deles!), visto ser apenas uma resposta a algum momento!...

Quando digo não levar a sério, é apenas não absorver o que dizem como coisa que poderia ser pensada por mim mesmo - mas não foi, e agora me é jogada na cara ("A verdade").
É um bom cuidado, pois tal coisas costumam mesmo entrar assim: quase sem nenhuma impressão, mas tão cheias de singela intenção - querendo fazer chorar conforme a ferida, irritar conforme o insulto, e, por que não, fazer rir conforme a rima?

Assumir ser bom em modéstia é falta de ou falsa modéstia?
Pois assumo ser bom, mas em ver meus erros e intentos, minha parcialidade!; e com isso supor muitas vezes que, por tê-la aos montes, cruzo por um número ainda maior fora de mim.

Então como não aprender a diferenciar e gostar apenas do cabe a si?
Mas não só na maneira em que se expressa, e também (diria principalmente) na como se entende o que expressam!
Pois quem sabe alguns absurdos não façam sentido, mas apenas por serem muito novos aos ouvidos?
Ou que ainda as coisas mais simples possam estar sujas com as mais mesquinhas intenções?

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Engrena!

"aos 2 min"


Que tal escrever hoje? Mas mesmo!

E não deixar como esses teus rascunhos feios aí...! Precisa tanto pra ser publicado?!... Por que tão rabugento?
...
Busca a água... vai...
faz o que tu sempre faz! Volta e coça, se contorce e boceja, mostra o teu repertório! Todo mundo já conhece esse teu papo da inquietude! Acha que ninguém vê tua manha... ou que 'passa batido'?
Meu olhar é espreito, porém não estreito... e sou chato que - se me guarda na vista - incomodo!...
...
Mas tu ainda tem sorte de ter minha pena. E fico apenas de algum canto, ainda que sem sono, só a te perceber...
...
Só não se assuste. Você sabe que é assim mas não há mal (e isso é mal!).
Pois sou bem teu amigo... mas já que dou algo errado, será que bom amigo?
Ainda afago seus erros... que erro!
deveria dar-lhe um beliscão contínuo, pra despertar sua atenção!
e alguma ordem qualquer que fizesse pensar no lugar certo!
...
Ou ao menos ser bondoso (em um 'bom despretensioso') e te falar coisas (pelo menos) talvez úteis, das que, se não ajudam, também não atrapalham - e já por isso o tentar seria belo:

"Sua leitura é boa!
então, quem sabe, não vejam o teu diferente...?
O que sai daqui? você sabe? Qual é o nome disso - disso agora?
precisa ser o bom de muitos para ser bom? Ou pior: entendido por?!
não saber definir - não foi esse sempre o bom???"
...
Afinal, não é disso que trata para si? Daquilo tudo de cansar de repetir - e de ouvir o repetido?
E se mais quiserem o mesmo?!
... e dos que não quiserem... interessa? te interessam? Não deveria! - e, sendo seu conselheiro mais próximo, acharia melhor considerar.
...
Agora sério: sei que tu cansa de mim. E com isso me vem uma culpa...
por isso te deixo um pouquinho...
mas é que não tenho tato ou mão firme, e deixo nas horas erradas... ou não te enquadro nas certas!
...
Então vamos conversar mais? Quero alinhar o que for! Pois ora te deixo, ora tu me deixa, e ficamos os dois naquela rixa, mesmo sabendo que, no melhor cenário, tudo flui - na paciência e arrojo.
...
E vê como sai texto? Esse foi mais no engano sacana, no "cata os pequenos" e monta alguma coisa - ou num fecha o olho e mete a mão . Mas é bom assim! Eu mesmo precisaria ler algumas vezes pra saber o que... o que... sei lá

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Monólogo

Já fui mais atencioso contigo, blog.
E hoje mal te checo...
Sendo eu que aqui me coloco, devo ser, portanto, a diferença.
Pouco assunto? bem... não é...
Digo eu, que só suspeito:
que trato o ouvido dos outros
com um carinho que eu tiro
de minha boca, que se cala...
E ainda inala as almas outras,
que, ardentes, 
tornam todos reluzentes
e no que pouco me contento
sopra um vento,
abafado e sufocante
que amarra meu instante,
e leva à todo o abatimento...


mas aqui vai um qualquer:
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- Agora arde em mim o de sempre. Já exalo aquela essência escura e fétida que me toma como áurea apropriada... ou face; ou como minha simples e dolorida explicação.
Sou assim, tão avesso? Tão sombreado, mesmo aberto? Jogado às luzes, que titubeiam, e então piscam, logo quando as quero...?
- Explicação? Essas são perguntas, meu caro.
- Pois então. Quer mais que isso? Que amargura outra que a do não saber... e veja!... a do não saber ter!! Ainda soa estranho, mesmo após tantos anos... Quem tem não sente? Uma roupa na pele, um cheiro por perto... seu amor desperto naquele peito?...
- Ora, da roupa eu entendo; do cheiro, é lógico. Mas o que faz o amor nessa coisa de explicações? Me faz pensar que também toca e cheira a roupa e o perfume por todos...
- Pois claro que não,  é impossível.
- Pobre homem... está mesmo perdido...
  Afinal, de onde vem? Vejo que anda há muito, está todo escorrendo!
- Vim de longo tempo sumido (aos outros). À mim, estive em guarda à um corpo já sepultado. Solitário, dei sequência ao velório... senti-me responsável pelo corpo que jazia...
- E por que? Já não sabe que, tendo a tampa acomodada, não há volta? O que pensou?
- Chama isso de pensar? Já não penso há um bom tempo. Se tenho apertos no peito, já não sei se isso é pensar... e só tenho apertos no peito...
- É sempre assim, enigmático?
- Te agrada me jogar na cara as fraquezas?
- Nada fiz...
- Por que me notou?
- Pareceu-me abatido...
- E assim estou. Nunca esteve?
- Estou agora. Esqueceu que falas sozinho, seu idiota?