terça-feira, 27 de março de 2012

Friedrich

... mas com nietzsche veio a revolução! Sua prosa é um organismo próprio, como tendo pernas, voz, e fosse livre! Cada argumento é um fio manuseado com tanta maestria que em duas ou três linhas ele pode tecer teias inteiras, e mal dá tempo de percebê-las antes que já tenham grudado na pele - e então, permaneçam um dia inteiro a perturbar... Mas nem toda perturbação é de motivo ruim, tal como o agito nem sempre é em gozo...

É normal que eu me pegue sem ler o livro... com ele mãos. Não por indiferença (mal acho que isso seja possível!). Mas pela sutileza ao precisar de tão pouco para abater, em algumas palavras, uma vida inteira de crenças - e tão variadas... e continuamente... fazendo sentir necessidade de tomar algum ar para me reorganizar. E então pareço mesmo um leitor distraído... - meio combalido... mas sempre superado; um mesmo vicente, mas com algo novo. Ou algo a menos! - talvez juventude, gosto pra esmola, conformidade... dependência...

Se eu o indico? não! não me façam isso...!
Entendo por indicação o que espera-se cair no bom gosto do outro... mas é custoso acreditar que alguém se interesse por ele ao mesmo ponto que eu, por exemplo - ou a qualquer ponto, na verdade. Minha empatia carrega uma vasta história por trás; improvável que a trama se repita, pelo menos por tão perto...

Pois é leitura pesada, em todos os sentidos. Não cheguei a ter tantos livros assim, mas nem há necessidade de comparação: encará-lo implica estudo e exige estomâgo!

Do estudo, já foi dito - e nisso incluo todos: o mais compreensível é que o interesse cavalgue sereno à frente... - como um alívio do esforço, que, puxado, só acompanha. Não há um pingo de aflição em terminar o livro, capítulo... parágrafo! Não é raro, com algumas frases, bater cotas de leitura... não há pressa!

E além do mais, tenho muito estomâgo!...
...pois o gosto por ignorar... Ah! Isso sim é vender a alma ao diabo! - para ter de presente um organismo preguiçoso e lento... é o que ele almeja: poder agora resistir à vida com os mais simplórios alimentos d'alma... para que vegete, se tiver a maior sorte!

Mas eu? Eu não sei bem se me gabo ou lamento ser devoto, mas continuo a gostar de tomar uns tabefes literários bem dados...

domingo, 25 de março de 2012

Crítica à autocrítica

Diversas questões me levam a estar aqui agora. E lembro bem, já na primeira postagem - ainda com um cambaleio que hoje me envergonha um pouquinho - dizia ser de questões tudo isso aqui feito.

Questões como a própria vergonha e o desamparo, o alerta do medo, a tristeza e a solidão... - desde o princípio são pautas minhas, tanto que as poucas críticas que recebo (dos também poucos que me dedicam atenção, e não só olhos) são relacionadas a um peso excedente nas costas, uma melancolia presente no corpo completo, o que certamente me torna mesmo um tanto aborrecido...

Mas eu nunca liguei para isso. Vejam que escrevi mais e da mesma maneira outras vezes - e não pensem que não sei bem o que eu sou ou pareço: tudo o que sai daqui é devidamente estudado, pois o próprio ato de escrever é um estudo de si mesmo. E há como, portanto, não respingar textos com um pouco de água podre?

Deveria até sujar mais, imagino...
Não que eu seja fétido - pois o que chamo de malcheiroso é apenas meu ser conflitante: essa pluralidade de pontos de vista vinda do saber e pensar demasiado...!
Mas isso não é estar no início de um rumo para a loucura?!...

Pois bem. Hoje, mais uma vez, tiro (ou tento) um tempo para estar aqui em comum acordo - essa é a regra para escrever: tantas vezes duvido de mim, tantas outras me culpo ou mastigo remorsos, que venho quando preciso de bons desabafos - então sento e barganho o quanto disponho de sinceridade por hoje... (e qualquer coisa do que sou já me satisfaz...)

Mas quem olha de longe e me vê calado não suspeita que eu também assim seja para mim... não sou um cara fácil... são poucas as vezes que estou de prontidão (mesmo comigo, mas não apenas...) - meus amigos já percebem, meus pais sentem, e por que eu não saberia?! - Logo eu!... uma bela máquina de picotar, separar, refogar, salgar e consumir (Tudo de mim)! Não é surpresa que eu tenha indigestões: quanto tempero e quentura!... quanta pressa e desejo torto!... quanta comida!!

Resumindo: eu sou um incomodo próprio!
Um auto-divergente e amador das discrepâncias... um astuto crítico de mim mesmo

E desta vez em pergunta: logo eu?!...
Pois que saiba dos sulcos no meu peito e dos rastros na memória... ou do cheiro do meu caráter - em suma - dos desejos aninhados às ambições megalômanas (... que saiba de mim!), é natural...

Mas continuar estocando insensatez, e dando ouvido amigo à histeria das minhas próprias risadas?
... pra que esse desdém?
E eu, onde fico?

sábado, 17 de março de 2012

Chega de rimas

Na boca, a sujeira no canto já tira o encanto.
Então pra que tanto prestígio,
se faltou vestígio
de quem se importa com uma cara torta??

Chega de rimas.
Sempre acho que elas consomem
o que cheira mal.

Pois notam que é um tanto infantil
esse ardil de querer
mais de mil sons engomados,
lacrados de forma a execrar o normal?!
[respira]

Devaneio não é coisa legal.
...
O sonho acordado é um tanto
igual ao dormindo:
Com a expressão vulnerável
de um belo idiota
sorrindo...

Mas dormir faz bem para o espírito
- reclama...
Ora, é claro! Ele ama
um soninho molenga,
que acolhe e carrega
pra todo lado;
sem aquela cobrança
que emprega 
em querer (ou ao) estar
acordado...

E não basta imergir pelo ego
e, do orgulho cego, achar
que o que sai da cabeça
tem no peito um bom lar. 

Ainda que às vezes seja,
é sempre abundante
de arrojos largados,
boiando no mar.

E por isso, que a porta
fique sempre encostada:
só escuro conforta uma alma calada.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A porta conveniente

Com esforço seguravam os olhares.
Deviam só ao protocolo; do contrário, haveria ele de derrubá-la ali mesmo, naquela mesa, com as próprias pessoas em volta, para que admirassem o vigor de seus corpos pulsantes, embanhados num mel de volúpia e suor.

E mal resolveu reservar sua loucura, surgiram-lhe outras. Pois notou a formosa bem perto de si... arrastando-se um pouco... deixando carícias...
- para tomar seu juízo!

E num arrepio, pegou-a na mão bem de leve e por pouco não escapa. Olhou firme e sem palavras - como pedem os bons momentos.

Fez tão bem que tomou um sorriso sincero e quase agarrou todo o resto. Mas ela soltou-se, arrastando suave suas mãos pela dele, pra atingi-lo tão fundo que entendeu a resposta sem nem a pergunta.

Mas que a deixasse mesmo ir agora...
Suspeitou que devessem esperar dissipar essa nuvem de olhares, ou que de última hora saíssem mais cedo por certa urgência inesperada... e sincronizada... -  e por sorte no mesmo horário, vejam vocês!...

Mas eis a surpresa, foi quando a princesa manteve os olhos nos seus em todo o trajeto de volta, parou no degrau de uma porta, por mais de um minuto o mordeu à distância e entrou. E ele, já tão sem juízo, deixou-se imergir nessa fome voraz e foi atrás.

Subiu uns três lances atrás da ligeira, e chegou ofegante a um quarto completo. Uma cama bem grande e vistosa, cortinas bailando ao vento... perfumes variados por todos os lados, com velas acesas e a bela ao centro.

Estava deitada de lado - com as curvas que deixam-no louco - com o braço apoiando a cabeça e o sorriso de agora a pouco. Esperou o transe do rapaz, cujo o sonho deixou amarrado. E o encanto só foi afastado quando ela chegou mais pra trás, estendendo e abrindo seu corpo... e aí não aguentou...

Em um pulo ele já estava em seu rosto, num beijo tão forte que tirou-lhe um gemido. Um leve pudor a censurou um instante, e virou-se pro lado com vergonha da entrega. Mas o rapaz era entendido, e a fez um carinho com a boca, beijando aos poucos seus cantos do rosto, e a sentiu derreter-se de volta ao seu colo.

E baixinho jurou umas coisas bonitas, carinhoso prelúdio pra outras, sacanas... Esgotando as palavras, perdurou no ouvido, desta vez com mil línguas por todos os lados...
E agora já estavam suados, imergidos num fogo soberbo lambido de dentro pra fora, enquentando até dentro do útero... com esplendor que excita e vigora!

...
A quentura do aperto dos corpos culminou em um êxtase intenso
...

Secaram expostos ao tempo,
vestiram as peças tiradas,
desceram pulando as escadas;

e atraídos pelo bom proveito
do frescor que um vento empresta,
agora com cheiro de amor, voltaram à festa.

sábado, 10 de março de 2012

Justificando-se

é papo de um louco 'com razão', que

"É nos assuntos 'sérios' que não só sumo, como agradeço por isso.
Meus olhos miram a involuntária tendência alheia ao ridículo, já que não é tema que define seriedade, porém respeito, o que nunca há.

E não falo desse respeito chulo, de tons de voz e sujeição engasgada.
O desacato que me incomoda é o pouco apego ao todo, o desprendimento conformado frente à visão elevada, aberta, hospitaleira. Sem ela, destacam e alastram o que querem, entortando o papo com o próprio papo, em um maquineísmo feio que divide o mundo entre o bem e o mau, sem dar brecha para que se misturem em sequer uma pontinha!

E me sinto encoberto e sufocado com minha fala, pois me transformam nela própria. À mim, isso sim é ser um vulto.

O ideal seria um mundo emancipado de ideais, para que surjam enfim as pessoas!
Meu silêncio é apenas valorização da minha própria, pois me cansa defender o hipotético - a fantasia de poder depender do outro.

Meu exemplo de que a injustiça é espreita, é que tudo o que disse conflita com outros conceitos que também me habitam; e impedem, por exemplo, de que eu ache natural engolir sapos ou não defender os meus próprios.

Para mim, a noção de contradição e o costume de sua vivência é a parte mais natural de um ser justo, pois afasta a pirraça que luta pelo todo encaixado a partir dos discursos, e abre espaço para que olhemos uns nos olhos dos outros pela primeira vez, enfim."

quarta-feira, 7 de março de 2012

Por algum motivo,

em um só pulo levantei da minha cama, em só três passos retirei-me do quarto, e mais um pouco e estou aqui.
E por que me atreveria a rebobinar esse forte repentino?

É certo que estar na cama não tem por pressuposto um belo sono;
e não mesmo, era o caso.
Havia nela algum ar de prisão. Prisão 'contemporânea', julgo eu. Tempos atrás, e poderíamos dormir à nossa hora, para acordar se necessário, e responder à... (?) ...ou não responder. Ou nada disso.         
Estou com sono, percebem?

Ó, grande mal incoerente! Era a terceira vez deitado, vindo de três bateções de cabeça sentado. E o mesmo em todos: repousa o corpo, excita a mente. Levanta e senta, e, de repente... tudo de novo!

Acho que foi daí! Calhou que cansei de gastar mal meus intervalos de cama, e de uma ideia veio o assunto inicial (de levantar, correr, ligar, daí estar aqui, etc e tal...).

Pobre blog, já bem sabe que só teclo no chicote. Olho pra ele, que olha de volta... que faça!
pois os dois parecemos os mesmos: enquanto nada temos, à desgraça pertencemos. Mas quando, como agora estamos, nem sentimos o fluir, já nos pomos a sorrir. Vê?

Mas pobre mesmo de quem sabe tudo da vida logo deitado em uma cama gostosa! Nem se pode aproveitar enquanto ela está geladinha...
No que pisca o olho, já está tudo quente e áspero, misturado e meio sujo!

O melhor para dormir é a ignorância. Ai, que gostosa! Lembro como se fosse ontem (e foi), quando deitei como um babão analfabeto, que se importou apenas em descobrir seus pés, pois não há nada como bons pés frescos pelo vento...

E daí hoje (ai, hoje!...) virei astrônomo, filósofo, economista. Empreendi mil vendinhas imaginárias (algumas delas, tenho até que anotar...) e passeei por alguns cantos da saudade.

Como penso! Co-mo pen-so!
Me dá um refresco, eu mesmo!
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Mas levantar foi uma ótima escolha.
Um pouco controversa, já que vinha estranhando a felicidade, e fugi meio contente, ainda que só por um pouco.
Mas foi só o vislumbre de tudo o que precisava: um desabafinho de mim mesmo.

Os motivos, afinal, não foram ditos.

Mas qualquer verdade escrita, mesmo a insônia, já me fará dormir um pouco em paz.

Boa noite!