domingo, 20 de abril de 2014

Amar...gura













A inaugurada,

1. Não sem medo apostou na dor
enquanto o amor lhe iluminava...

2. Que até os olhos livrou da cena -
mas como o gozo, que perdura,
não se livrará deste poema.

3. Da fidedigna reação
vendo a mácula bater à porta
das suas juras de redenção...!

4. E seu rubrar por entre as pernas,
vibrantes, comigo junto,
em fuga das normas internas.

5. A da temperatura instável,
quando me pus a recitar
um poema abominável.

6. Abduzida a fins erógenos,
mas de acordo com os rumos
a que levam os novos córregos.

7. Resplandecente no dia seguinte!
De excitação não à toa: 
de zero passou a ter logo vinte.

Mas nesse humor tão precedente,
sem agüentar tanto requinte,
não tardou a cair doente...

Fisiodilema












Quanto mais aguentará a resistência
que me comprime por dentro
numa apneia de décadas?

Onde mais tomar um vento de quintal,
se hoje presto de assoalho 
em um canto de paredes altas?

O que mais dá pra cuspir por esses poros -
posso aroma, elixires?
mesmo o sal ainda se encontra...?

Quanto, em baldes, poderíamos medir?
Ainda assim sou pá de areia,
e vivo aquém da natureza...

E afinal -
quando um globo -
como devo me irromper?

Pelo estouro; sucumbido;
como feto mal gerido?

Ou da força a (re)nascer...?

domingo, 6 de abril de 2014

O senhor da lua

O homem exilado, no mundo
da impassível multidão de si mesmo,
esbarra ao andar, moribundo,
cantando e dançando versinhos a esmo.

E quando está fora -
mesmo que perto (longe, embora,
se desespere),
descoberto da capa que, suja,
não lhe dá forma, mas sugere -
vive de esbarrar e sentir nada:
castigos por viver a vida errada.

Ainda um olho que só espia
o alimenta de agonia
pelas cores que se batem.
E dos feixes, em vão, ele tenta
não tomar rumos errados -
mas tampouco isso o orienta.

Resta o vento que, sem culpa, 
rouba o som já rarefeito;
e, a viver só desse efeito,
rodopia e sobe à lua!

(Só não pense aquele charme
que da terra se insinua...)

Lá não há vida boa,
não germina um sonho à toa...
Há vastas terras, só que maciças,
e lampejos de solidão.

Lá, se exposta a resistência
(quando um nervo radiante),
mais sutil vem a demência.

Lá o herói cambaleante...
...como custa a abrir mão!

Leva no peito uns fragmentos
mas da lua a reputação!

E como isso basta...!
como isso basta para sua
índole casta, pobre,
humilde, que pouco se descobre!

Toupeira da lua...
Se rebaixa e como puta 
se insinua.
Se contenta com a beleza
fria e feia
que de esmola se oferece
ao virar da lua cheia.

Qualquer dia hei de buscá-lo,
ou tu escorres por um ralo
das crateras que vagueia.