domingo, 6 de abril de 2014

O senhor da lua

O homem exilado, no mundo
da impassível multidão de si mesmo,
esbarra ao andar, moribundo,
cantando e dançando versinhos a esmo.

E quando está fora -
mesmo que perto (longe, embora,
se desespere),
descoberto da capa que, suja,
não lhe dá forma, mas sugere -
vive de esbarrar e sentir nada:
castigos por viver a vida errada.

Ainda um olho que só espia
o alimenta de agonia
pelas cores que se batem.
E dos feixes, em vão, ele tenta
não tomar rumos errados -
mas tampouco isso o orienta.

Resta o vento que, sem culpa, 
rouba o som já rarefeito;
e, a viver só desse efeito,
rodopia e sobe à lua!

(Só não pense aquele charme
que da terra se insinua...)

Lá não há vida boa,
não germina um sonho à toa...
Há vastas terras, só que maciças,
e lampejos de solidão.

Lá, se exposta a resistência
(quando um nervo radiante),
mais sutil vem a demência.

Lá o herói cambaleante...
...como custa a abrir mão!

Leva no peito uns fragmentos
mas da lua a reputação!

E como isso basta...!
como isso basta para sua
índole casta, pobre,
humilde, que pouco se descobre!

Toupeira da lua...
Se rebaixa e como puta 
se insinua.
Se contenta com a beleza
fria e feia
que de esmola se oferece
ao virar da lua cheia.

Qualquer dia hei de buscá-lo,
ou tu escorres por um ralo
das crateras que vagueia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário