quarta-feira, 27 de abril de 2011

Quando estou sobre trilhos

Alô Alô, senhoras e senhores, desculpem a intromissão!
venho aqui para preencher
esse barulho de percussão
bate bate que tanto bate,
vem dos pés e não dissipa;
se equilibra na bandeja, se segura em qualquer vão!

Se minha venda ambulante
não consegues bendizer,
o que fazes cedo assim
entalado desse jeito?
do outro lado do prazer
sem ter mais o que fazer?
não pareces mais que eu
só estufas o teu peito

Já passei da minha fase
de olhar pro teu calçado
e pensar pura besteira
do que acha em teu tablado...

hoje só o que me importa
ao entrar por aquela porta
é que leve meu produto e não se mostre acanhado

Não vês tu que o desconforto também a mim acomete?
que maluco com arbítrio escolhe de lata andar?
caixa prata, sobre rodas, peso bruto que desliza
pouco entra alguma brisa
pouco dá vazão o ar
não confie no teu corpo
não te ponha a espirrar
- sem contar com a proteção,
feita pela tua mão -
calha de todo carioca
tu assim contaminar!

E por mim que tenhas pena,
é isso mesmo que quero
mas não pense todo mal,
mesmo eu de mim pouco espero
hoje o sonho que me ocupa
- vejam só que pouco alento! -
é a dar aos filhos que alimento
a alegria de crescer
...
comprando à vontade
o que sofro pra vender

Sei que gostam do meu show
eu lhes trago diversão;
e se tu achas que não
por que desvia a atenção?
Eu sei bem tudo o que queres
quando o espaço está menor
quando olhas pela janela
e já tem tudo de cór

queres só um diferente
-não que tenha algo em mente;
de viagem delinquente
está farto o teu pensar;
e a cada compromisso
te sentes logo um submisso
ao sistema de metais
que te põe pra lá e pra cá

é aí que entro eu
parecendo um fariseu
tatuagem camuflada,
clarinha, mal pintada,
misturada sem capricho
em meio aos tons marrons 
da minha pele desgastada
...
esperteza declarada
no sotaque repuxado
digno de um pé rapado
que sabe o pouco que tem
e usa-o como ninguém

E pode ver...
que na hora tu fraquejas!
não te quero enganar
ainda que de mim desfaças
sabes que sim...
te tenho na palmar
...
brinco com teus desejos
de trabalhar o paladar,
de levar aos teus amigos
esse brilho no olhar,
quando olhas bugiganga
que tu juras precisar
mas no fundo sabes bem
que só dura a sensação
enquanto os trocados teus
não descansam em minha mão

Por agora, meus senhores,
estou quase indo embora
falta pouco...
mais alguém?!
pelo menos uma esmola?
já me espera o outro trem
passem bem, até alguma outra hora

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sabe o que eu percebo?

Que tudo não passa de um grande desentendido. Não um tudo específico, de uma só situação. Nem um abrangente demais. Definiria bem limitando-o às relações humanas. Mas isso lá soa como limitação? Veja que não é coisa pouca. Meu tudo engloba o mais importante. Qual outro conjunto tem tamanha aptidão para o imprevisível? Os animais? Se tem, não sei, não cato. Parecem tão presos ao 'nascer, crescer, reproduzir e morrer'. O homem é mais sacana, tem sorriso torto, tem pretensão. Sabe do seu potencial para estar no controle. E se esse ainda não é completo, puro charme do tempo, que ainda não veio. Deixou de ser animal há muito, virou deus e sabe disso. Mas um temperamental, cheio de si. Gosta de impor sua opinião, e se satisfaz com o poder limitado - mas crescente - que possui. Não tem a resposta de onde veio, mas isso importa? Sabe que cresce, ótimo. Reproduz se quiser. E morre. Mas espera só mais um pouco, ah espera...!

Pobre dos animais. Eu aqui desfazendo de suas manhas. Não me entendam mal. Gosto deles, mas não estou falando aqui de beleza ou empatia, mas de capacidade. Já enrolei tanto que não sei se lembram, mas falo de desentendimentos. Vêem como pareço soberbo ao falar isso tudo? Não sou. Julgam-me pelas palavras que digito, mas não é pra menos. Pois se eu, com puro pensamento, já me digo soberbo e ponho em suas cabeças, leitores, como não me achar vulnerável por coisas palpáveis como meu texto? Eu mesmo releio o blog várias vezes e já não entendo tanto algumas frases. E, quando lembro, me sinto mais escancarado ainda à interpretações. Não escapo nem das minhas! Mas é só uma constatação, não um receio. O que posso fazer afinal? Parar de escrever? Tolice. Não sou apenas isso aqui, e muito menos é algo que se possa blindar. “Penso, logo julgo”. É inevitável, inconsciente, natural. Considerando estar certo - para servir de exemplo -, não pontuaste minha soberba em voz alta. O pensamento apenas acompanhou minhas linhas, sem controle, sem parcialidade real. Puro tempero humano.

Todo esse enfeite é porque hoje avaliarei meu blog. 
 
Ainda não sei como trato esse espaço. Sei que tudo que de mim sai é deliciosamente genuíno. Escrever aqui é como estar de frente para o espelho. Eu falo pra mim, olhando na minha cara! E esse rosto me acompanha por tanto tempo... fito bem fundo em seus olhos todas as manhãs. E me retribui com tanta simpatia! Estou tão ligado ao meu interior, passo tanto tempo comigo, que nada escrito aqui sai com esforço. Tenho tudo mastigado, saboreado, engolido, digerido. Estou apenas... vocês sabem!

Percebo um excesso de pessimismo. Para correção, afirmo ser sereno. Passo por uma fase turbulenta, mas me sinto bem estando ciente disso. E no centro do furacão, mas mantendo os olhos abertos. Gosto de ser esclarecido, não me escondo de temas, indagações. Não atribuo respostas incertas. Prefiro deixar perguntas de molho, trabalhar minha capacidade e voltar à elas.

E gosto de quando cantando escrevo. Passei um tempo pensando dessa maneira, como uma mania incontrolável. É gostoso, dá ondulação ao texto. Torna-o risonho, tira-lhe a seriedade e vai junto dela a pressão por perfeição. Aproximo-me mais da arte, da fluidez, da cultura popular, da boca do povo. O valor de vê-lo dançar em seus lábios, e ainda se deliciar imaginando a melodia que sai de outras bocas, de outras interpretações musicais. Cantarolarei bastante ainda.

Vejo algumas forçações de barra. Mas mesmo elas me fazem sorrir. Estão em meio a coisas incrivelmente belas, e tudo está dentro do planejado. Este blog é o que eu sempre soube que poderia fazer, com as devidas margens de erro. E cada post é um tapa na minha cara, dos que pegam em cheio, com minha própria mão. Sempre me prometi essa surra, as vezes me espanto por ela já ter começado. Como eu mudei com o gostinho da minha conquista! E estou ávido como nunca por continuidade, por conhecimento, por crescimento! Tomando gosto pela tentativa, já não me falta nada. Vejo que nunca faltou. Talvez apenas me ver em palavras e enxergar a beleza que sempre existiu por trás da minha matemática sensorial altamente subjetiva.

Cansei de escrever. Gosto dessa liberdade e vou fazer valer meu direito. Estou sim sendo visto. Muitos gostaram da minha empada. Tive mais de duzentas visualizações e sessenta visitantes únicos em quase duas semanas. Muito mais do que esperava. Podem continuar a análise pra mim nos comentários? Usem o anônimo e xinguem à vontade. Só sejam sinceros.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Philip GoGear


Adoro quando estás por perto, bela música! Deixe de lado esse charme de não ter mais energia. Sei que muito é culpa minha, não te plugo na tomada. Mas sabes da tua parcela, carregas capengando... somos tão bons amigos, por que me deixas na mão? Por já estar caidinho, sei bem. Grande pena. Não quero trocar-te, gosto tanto do seu jeito. Mas hoje estou agradecido pela sua companhia. Estive tão cabisbaixo, talvez por muito sono. Nem carona ao trem tive, sabes como odeio esses dias. Claro que sabes, tu de mim tudo compartilha.

E mesmo manco, me suportou. Que belo som veio emanando, como há muito não ouvia. Voltei aos primeiros dias. Lembra-se deles? Eras pura rebeldia, só sabias dar porrada. Adorava! Até hoje me pergunto se tão bem quanto antes ouço. Teu volume é muito alto e não consigo resistir. E tu também não ajuda, bem sei que gostas de me ver a cabeça balançar, te sentes orgulhoso, seu rapazinho genioso!

Sabe aquela vez que pela raiz do samba balancei? Ficastes louco, bem sei. Mas mesmo ali me compreendeu. E gostastes um pouco, admita. És do rock setentista, mas sempre soube aprender. Os preconceitos estão lá, como em todo outro campo, mas também gostas de quebrá-los. Sempre fostes bom martelo. Sambastes tu também.

Como gosto de te ver com aquele sorriso de canto de boca, me dizendo “acertou”! Basta um baixo rechonchudo, dos que orquestram todo o resto, que domina o ambiente e a ele dá volume. E guitarra com carisma, não te importa de que tipo. Gostas das que escarram no chão, declamando rouquidão, e das que os olhos marejam e esfriam a barriga, custando a acreditar que coisa tão sublime exista.

E o batuque swingado de uma boa bateria, e um solo de teclado que te traga nostalgia, e um canto interpretado - não forçado. Pura maestria. Gostas das coisas simples, das complexas, gostas de técnica, de tosqueira, de peso e dos sons que só se ouve depois da décima vez. De letras que falam da tua vida, da que tu queria, ou das que contam fantasia. E de mergulhar de cabeça, se teletransportar, mas também gostas de nem perceber o que ouves.

Gostas de música. E eu gosto de ti.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Aonde pensa que vai?!

Antes que se deixe levar pelas maravilhas desse mundo, meus caros, deixe de lado as do outro. Queres fantasia maior do que tens ao acordar? Tua vida não faz mais que pouco, não és tão importante assim. Achas ruim? Acho lindo.

Gosto de ter vislumbre infinito, e assim vou levando minha leviana existência. Pensas ser um texto depreciativo? Certifico que não. Pouco me conheces. São apenas cinco textos bobos. Seis ao todo. E, se não por eles, mas por comigo estar alguns poucos, ainda assim não fazes ideia. Não por ser misterioso. Mas de ti também não faço. Onde arrumaria lugar para crescer se do tamanho do mundo me achasse? E quantos desse tamanho não se acham e, com tanto, falta espaço?

E lhe pergunto qual a graça desse mundo se teimamos em achar que de verdades somos feitos? Não te ponha em patamar de igualar tua breve vida ao grande baile de pedregulhos cósmicos. De infinito apelidado, o universo é, por si só, a constatação da nossa mediocridade.

E vejam como minha vida é toda bela, nunca foi menos que isso! É meu ser franzino, largado num canto qualquer desse habitat fantástico, que me encanta e me faz cantar. E o quanto mais indago e aprofundo o olhar, menos enxergo o fim dessa imponente imensidão. E não há como evitar, do cume da minha ignorância, desejar parcela mínima de imensurável sabedoria. Declaro aqui meu amor; não à vida, mas ao que não conheço dela.

Mas antes que eu encerre, disse bela, não fácil. Achas que sei lidar com isso? Não ter o ego grande é minha segunda grande falha. A primeira é considerá-la uma. Mas não me agrada a verdade instaurada. Far-se-ia um livro; e pra que então seria a vida?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ruminando...


Sou exímio conselheiro. Não é raro me assustar com a profundidade do que digo; por vezes coisas tão claras e generosas que pergunto como ainda me deixo levar pelas muitas indagações a que eu – justo eu (!) - estou exposto.

Me intriga a divergência entre o deleite ao dissecar o desconforto do outro - sempre tão ingênuo e de solução branda - e o frenesi consequente – e inconsequente - das minhas próprias aflições, acompanhadas de vistosos ornamentos que entopem de importância os meus fatos. E mesmo com o cuidado de procurar indícios parecidos no depoimento alheio, ainda assim não me vira um grande obstáculo. Com algumas breves contextualizações, encontro caminhos para a sonhada tranquilidade paliativa do camarada ao lado. Quanta bondade!

Mas ora... isso é pura contradição! De nada adianta análise meticulosa se o que importa ao panorama é o calor que toma nosso ser. Fervor vigoroso, que ofusca a razão, embriaga os sentidos, enjaula as ações. Acoados pela garoa, por receio de enchente! Como vejo bem com meus olhos embaçados! Julgo que seja da idade, noto esse padrão. Imagino que em pouco tempo entenderei melhor sobre variação de sentimentos e ocasionalidades, entrando em um estado menos controlado, talvez um piloto semi automático. Tanto entendo que tenho carinho pelo tempo que vivo hoje. Me enxergo com a nostalgia de alguém que atravessa uma fase tão estúpida quanto essencial. Puro aprendizado. Aguardo ansioso o momento em que me apodero do leve manejo de todo esse turbilhão.

Lembra-se do tempo
em que perdíamos tempo
procurando sentido?
mastigando o que era
pra ser engolido?

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Bolero meu

E por hoje falarei,
ainda que incompleto,
dos loucos mundos que embarquei

Só não caiam no meu erro
do saber demais
e, por desespero,
agir conforme o que já sei

Pois de nada adianta
adiantar o que não veio
e por puro devaneio
vangloriar-se um grande rei

Se de ordens tu não vive,
e apenas serás homem livre
ao abolir de tuas veias
cada breve covardia
que te apossa ao meio dia

E dos sonhos na cabeça
não se deixe enganar
tu nada terás de nobreza
até saíres do lugar

Pois moeda sem valor,
se chamada assim for,
é nada menos que aquela
que, por pura balela,
não se põe a circular

E antes que tudo seja
aquilo que tu deseja,
aprenda a adorar-te

Ergue a testa, olha em frente
enxerga o teu inerente
pois ainda que o normal,
com aparência de vital,
seja o vislumbrar externo

De nada adianta
se com olhar de anta
olhas para o interno

segunda-feira, 11 de abril de 2011

about butterflies in stomachs


O que é o amor?

Espera, esquece, pergunta difícil; respondam-me apenas se é bom... Pois é o que dizem, mas não é o que sinto. E é o que sinto?

Duro sentir o amor como fardo. Não por definição minha, mas de todo o resto. Pois se amamos os seres e seus instintos, as cores e os reflexos, a maciez de um timbre e o arrepio dos pelos do braço - que maravilha! És um agraciado! Gozas de plena sensibilidade emocional e sensorial, louvado seja!

Só fique longe de mim, você e suas tendências à fragilidade!

Ora bolas! Não te precipite! Não te peço que ames de volta. É o que quero, tolice esconder. Mas sou humano, não credite apenas a mim tal necessidade. Só não aja como se eu o implorasse! Onde mais se acha um querer bem sem nada em troca como esse? Aprenda a desestabilizar meu senso de orientação: trate-me como enfermo, sinta pena de mim. Tenha consciência de que eu adoro a tua presença e o teu toque, mas olhe-me com indiferença. As ideias se confundem, volto à condição de novato. Me privo do direito de cultivar o sonhar profundo, castro meus impulsos. E só restam as ruínas do que nem veio a existir. E não falo das definições de rótulos, idealizadas. Mas em destrancar essa sensação pulsante que me entope a garganta e arranha as entranhas. Me deixando louco de vontade de tudo, e ao mesmo tempo limitando o meu ser ao que o outro permite, já que de nada vale um punhado de sentimentos e uma pessoa só. Isso já se vive o tempo todo, to meio cansado.

Mas, antes de tudo, não pense que estou apaixonado. Eu sou apaixonado! Vez ou outra, de fato, isso me leva à paixão. Do modelo clássico, dissecado por pensadores, matéria-prima das obras literárias. E não me toco, repito, caio de novo na própria armadilha. A de achar que todos tem a minha condição de jogo. De deixar tudo florescer sem medo, ainda que seja comedido nas palavras. E só eu fico sabendo de tudo. Sofrendo por altruísmo, na esperança de que a resposta venha naturalmente, como em mim.

Ademais, sou paciente.




domingo, 10 de abril de 2011

meu pão com manteiga

Eu peco por ser coerente. E por trazer essa coerência à superfície do meu caráter. Quantos não se declaram livres do imposto cobrado pelo preconceito, mas mal conseguem esconder suas bocas tortas de reprovação na hora do vamos ver? Só eu vejo? Fico surpreso por aquilo transparecer um sentimento tão enraizado e inconsciente; já não me permito julgá-los como errados, e sim como desinformados, com pouca abertura para o novo e, antes de tudo, pobres coitados que nada entendem do que se passa! O que dirá de se enxergarem!! Se proclamam auto suficientes, mas se escondem atrás de sofismas como "gosto é gosto", ou o covarde "vai querer me dizer do que tenho que gostar agora?". Nada disso cola comigo. Não admitem o que não lhes aconchega nem mesmo se incomodam em limitar suas definições de mundo. Tornam ele menor, e digo em sua forma física, pois ao se privar de experiências - por um motivo imaginado, e não vivido-, o que mais fazemos além de evitar que elas se incorporem ao nosso mundo vigente, muitas vezes pra nunca chegar a existir de verdade? Como uma escravidão, em forma de herança cultural dos nossos ancestrais, uma amarra que não se vê, e se manifesta como uma base, de origem milenar, para os nossos pensamentos. E desde quando o que existe há muito tempo costuma parecer algo a ser melhorado?

Pra mim, assemelha-se ainda a um persistente complexo de vira lata da humanidade, que não se toca das tantas coisas existentes tão mais dignas do que se alimentar com sentimentos de segunda mão, chulos. Aquela velha mania de dar notas usando como critério a comparação, a julgar tudo como bom ou ruim. Por que não diferente?

Mas e qual é o pecado em ser coerente? No fundo, essa é a minha hipocrisia. Pois pior do que limitar o espaço do outro é limitar o seu próprio espaço, falhar contra si mesmo. Não que sejam ambos exemplos marginais aos olhos da sociedade de hoje - aquela que, pelo menos em teoria, preza o diálogo e carrega a bandeira do "viva e deixe viver". Mas um cria conflito externo, cena a ser resolvida em meio público; o outro rigidez de personalidade, empobrecedor de espírito. E, no meu mundinho de estimação, considero o primordial. Resolver-se para poder resolver. Deveria me deixar viver tanto quanto eu deixo viverem. Então o que isso tem de coerência?

E essa é uma pergunta muito difícil de responder. Pois ela é íntima demais, algo que, definitivamente, tenho que responder sozinho. Íntima por não saber definir. Algo como imaginar o vácuo, o nada, e ainda ter que explicá-lo metodologicamente. A angústia surge ao entender que, a partir dessa coerência e respeito ao espaço e aos sentimentos do outro, formam-se os meus modelos de privação. Consigo ir além da tolerância às opiniões. E ao elaborar inúmeros pontos de vista para uma mesma situação, fico perdido ao tentar desenvolver o originalmente meu. E é o ponto onde o "dom" torna-se algo nocivo.

Pois a vida não nos dá garantias. Tudo o que fazemos é exercitar o nosso eu, mostrar do que somos capazes; e ser escolhido, ou não. Essa última parte é impertinente, ou deveria ser. Já basta lidar com o turbilhão de sentimentos que nos preenchem, qual seria o benefício direto em se ocupar também com assuntos que não temos como manusear? É pedir pra sofrer. Acreditaram nas histórias que contei na primeira postagem? Que bobagem, sou pura emoção. A própria racionalidade é um reflexo da minha pequenez em assuntos do coração. E o importante é saber até onde suas pernas aguentam, como tirar o seu melhor em cada situação pra, finalmente, poder entender de fato o que é o seu melhor, e ter controle sobre ele, pra usá-lo agora ou mais tarde, aqui ou o mais longe possível, com ela ou alguma outra. O erro, o meu erro, está em querer ter meus resultados aprovados pelos outros, todos eles!, e não só por mim. Algo como torcer o nariz para o que escrevi até agora, e pensar em apagar até aparecer algo melhor. Trocando em miúdos. Começo a postagem com uma crítica aos intolerantes e termino querendo ser uma unanimidade. Quanta prepotência!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Começa a te abrir, Sésamo!


O blog demorou pra sair.

Não um blog, mas este em específico. Isso considerando que dessa vez é definitivo, mas ledo engano achar que com os outros também não foi assim.

E o que me faz pensar que não será mais do mesmo? O que me impede de escrever? Talvez o fato de ser visto, e por isso cismar em medir minhas palavras. Mas aí qual é a graça? E a diferença em relação ao costumeiro? Não faria sentido fazer mais do mesmo. A publicação não sairia, não haveria espontaneidade, irreverência, e esse é o ponto a pesquisar. Não quero escrever para os outros. E nem pra mim, na verdade. Quero escrever de mim. De mim por tudo sair de mim. Desconheço qualquer coisa em que eu não esteja inserido, não seja parte atuante, pensante, um organismo involuntariamente interativo, a principal peça de cada minúscula situação pela qual o mundo já passou. O meu mundo, o que me importa. Mesmo que não me importe, sempre importa.

Por isso dessa vez eu não vou me preocupar com o visual do site – nesse início – ou com a qualidade do que está sendo escrito. Quantas coisas belíssimas já escrevi e descartei? E as ruins? E quem sou eu pra dizer que eram ruins?! Passei a borracha, deixei de salvar. Quando ponho pra fora! Minhas ideias são, antes de tudo, rebeldes. Como aquele muleque espertíssimo de escola pública que insiste em se ver como o líder do bando – e é! –, mas nada faz além de desperdiçar seu tempo desmerecendo os coleguinhas. De que adiantam os grandes projetos? Ou mesmo os médios, os pequenos, os microscópicos, os projetos de projetos... sem movimento.

Falta movimento, vivo isso! Movimentos incertos, tolos, ousados, involuntários, apaixonados, enervados, sujos, errados! Falta arrependimento! Gosto particularmente dos arrependimentos. Investimentos que a curto prazo trazem dor, mas que encorpam as grandes lembranças. Como gosto de olhar pra trás e ver que eu errei, mas só depois de alguns meses, claro. No campo das semanas, o borbulhar é tão intenso que abafa a racionalidade. E eu não to acostumado com isso, em não ser racional. Aproximo-me muitas vezes de uma máquina capaz de sentir emoções. Mas essas mais se assemelham a um vírus persistente do que parte componente do meu sistema. Falo das ruins, claro.

Reviso meu texto e faço careta pra quantidade de perguntas do início da postagem. Penso em começar a apagar. Os senhores me permitem manter? Não queria me mostrar aqui como um cara perfeito. Na verdade, não queria me mostrar aqui como nada, apenas que surja. E mais na verdade ainda, nem sei ao certo o que sou, como posso definir o que quero que saia? Talvez por isso esteja escrevendo e pretendo escrever. Pra me entender. Todos parecem agir com tanta naturalidade – e nem precisam de blog para isso! -, mas eu tenho noção de que nada mais é do que um entendimento meu, e muito provavelmente falho. Não costumo ter pretensões de ditar verdades. Nem de mim, imagina dos outros. Mas o que mais sou além do que surge em meus pensamentos? Acho justo que dedique um tempo à redação para poder me buscar, ando um pouco perdido. Li uma vez em um prefácio de livro de história que sua importância estava em olhar o passado buscando nossa essência. Pois os atos traduzem a personalidade, e aquele grande registro de atos da humanidade servia pra buscar as respostas para perguntas que já haviam sido feitas, evitando erros e antecipando reações. E não repetir perguntas, o que faço!

Mas talvez isso tudo seja puro reflexo da minha mencionada racionalidade, fazendo pensar assim. Ou não. Talvez nem saiba do que estou falando, não tenha nenhuma intenção clara do que isso tudo venha a ser e queira apenas ser visto. Percebem? Eu sou um homem de muitas perguntas, acostumem-se. Me pergunto se conseguirei responder todas as que fizer por aqui. Talvez faça um blog paralelo, só de indagações! E ele sirva para as próximas gerações, para quando estiverem todas elas respondidas, a humanidade se torne por completo satisfeita, sendo eu aclamado como um guru de sua época (haha)! Mas vejam só quanta ingenuidade, as vezes sinto que busco isso mesmo, a onisciência. Não por prazer. Informação demais pesa o peito e a cabeça; Mas por natureza, como se fosse movido por uma força intuitiva, algo superior, talvez. Diria que, verdadeiramente, por mim mesmo. Não sei se entendem a minha distinção de informação e conhecimento, mas penso que consigam imaginar a diferença. E, se não conseguirem, vou fingir que tudo bem. É só mais uma daquelas coisas que chegam no estalo e duram para serem dissecadas. Quando são.  

Sinto graça disso tudo. De escrever sem compromisso. Imaginava uma postagem inicial de três, quatro parágrafos médios, na margem otimista. E já estou na segunda folha do Word! Nem sei se a estrutura do blog comporta tudo isso. A graça está em ler, lembrar e me ver. Lembrar porque, de certa forma, eu tenho também muitas respostas para algumas das minhas perguntas. E me passam pela cabeça todas as tentativas de tentativas (!) de blogs super determinados que ruíram frente ao primeiro sintoma de preguiça, obstáculo ou qualquer coisa melhorzinha (cabe discussão) que eu pudesse fazer nos momentos propostos. Custo a lembrar, mas grande parte do que já comecei, sequer comecei. Trazendo aos exemplos dos blogs, cadastrar e-mail e pensar em um nome não é, necessariamente, criar um blog!

Mas eu sou um tolo! Um tolo facilmente corruptível... por mim mesmo!!! E esse outro ser também é um sacana descarado, e revida com outras espertezas. Pobre de mim! Não sei se sou um só, dois ou três mil. Sequer se sou! Mudo tanto que não enxergo uma padronização, mas percebo pequenos padrões em tudo o que faço. Que coisa confusa!

Ta, esse é o último parágrafo. Acho legal que entendam como decidi. Primeiramente, estou super motivado por ter escrito tudo isso até agora. Além disso, me sinto muito inspirado. Escreveria pelo menos mais uma folha, sem rodeios. E isso seria mais do que o suficiente para eu me forçar a continuar escrevendo, mesmo começando a ficar um pouco cansado, pois dificilmente consigo me manter por tanto tempo de frente pro computador com tamanho entusiasmo. Trabalho a base de protocolos, me deixar levar é um sacrifício. Loucura, não? Não? Sei lá... Mas vou parar por aqui. Finalizarei com uma crítica, característica muito íntima do que sou. Esse blog é muito pouco atraente para leitores descompromissados. Uma maçaroca de informações em blocos gigantescos, parecendo uma daquelas empadas bem massudas, que grudam na parede da boca, ressecam a garganta e tornam o que seria uma guloseima prazerosa em um esfarelado difícil de engolir. Estimo ter poucos leitores. Mas sem antecipações, por favor, Vicente.